Por Catiane Pereira*
O Tribunal de Justiça da Bahia (TJ-BA) marcou para 24 de fevereiro de 2026 a sessão do Tribunal do Júri que vai julgar Arielson da Conceição Santos e Marílio dos Santos, acusados de envolvimento no assassinato da liderança quilombola Maria Bernadete Pacífico, a Mãe Bernadete, dois anos após o crime. A sessão será realizada em Salvador (BA) e poderá se estender até o dia 25, caso necessário.
A mudança de comarca, da cidade de Simões Filho para a capital, ocorreu após o TJ-BA reconhecer que a repercussão nacional do caso e o impacto social do crime poderiam comprometer a imparcialidade dos jurados locais. O processo está em fase de desaforamento, que é quando o julgamento é transferido para outra comarca por risco de parcialidade.
Como será o julgamento
Arielson, que está preso preventivamente, e Marílio, que segue foragido, serão julgados por feminicídio, homicídio qualificado por motivo torpe, meio cruel e impossibilidade de defesa da vítima. A expectativa da acusação é que Arielson colabore com novas informações durante o julgamento, inclusive sobre o paradeiro de Marílio, apontado como um dos mandantes do crime.
A sessão terá a atuação dos advogados Hédio Silva Jr. e Anivaldo dos Anjos Filho como assistentes de acusação, representando a família de Mãe Bernadete ao lado do Ministério Público da Bahia (MP-BA). A defesa dos réus apresentou lista de testemunhas e acompanhará todas as etapas do júri.
Segundo as investigações, cinco suspeitos já foram presos entre 2023 e 2024 pela participação na execução. Arielson é apontado como um dos envolvidos diretamente no ataque, junto a Josevan Dionísio dos Santos, conhecido como “BZ”, preso em setembro de 2023.
O crime
Mãe Bernadete foi assassinada aos 72 anos em 17 de agosto de 2023, com mais de 20 disparos, dentro da sede da Associação Quilombola Pitanga dos Palmares, em Simões Filho (BA). A liderança atuava contra a expansão do tráfico na região e denunciava a exploração ilegal de madeira em áreas de proteção ambiental. O crime teve forte repercussão nacional e internacional por atingir uma das principais referências da luta quilombola no Brasil.
Na noite do assassinato, os netos da líder estavam na residência. Após os disparos, os criminosos levaram celulares da vítima e das testemunhas, mas o neto mais velho conseguiu pedir ajuda pelo computador. As investigações identificaram ao menos seis envolvidos entre executores, mandantes e colaboradores.
A família contesta a versão inicial de que o crime teria ligação com o tráfico de drogas. Para os filhos de Mãe Bernadete, a execução está relacionada a conflitos territoriais, disputas por terra e interesses econômicos na região. Eles também apontam falhas no Programa de Proteção aos Defensores de Direitos Humanos (PPDDH): câmeras de vigilância quebradas não foram substituídas e as rondas policiais seguiam horários previsíveis, o que teria facilitado a ação dos assassinos.
A morte da liderança quilombola se soma à execução de seu filho Flávio Gabriel Pacífico dos Santos, o Binho do Quilombo, assassinado em 2017. Para a família, a ausência de respostas sobre os mandantes dos dois crimes reforça um histórico de impunidade. “Quem mandou matar Mãe Bernadete? Quem mandou matar Binho do Quilombo?”, questiona o filho Jurandir Wellington Pacífico.
*Com informações da Alma Preta


