Letalidade policial na Região Metropolitana de Salvador bate recorde em setembro

Setembro é o mês com maior número de pessoas baleadas durante ações policiais desde que o Instituto Fogo Cruzado começou a mapear dados na Bahia. Os números ultrapassam os dados registrados no RJ.

Setembro é o mês com maior número de pessoas baleadas durante ações policiais desde que o Instituto Fogo Cruzado começou a mapear dados na Bahia. Os números ultrapassam os dados registrados no RJ.

Por Andressa Franco

Imagem: Marina Silva/CORREIO

Diante da crise de segurança pública e escalada da violência na Bahia, o ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, assinou nesta segunda-feira (2) duas portarias para “reforçar o enfrentamento da violência e o crescimento de organizações criminosas no estado”. O Rio de Janeiro também receberá recursos federais.

Nas últimas semanas, o quadro se agravou nas regiões com aumento da letalidade da polícia. Para a Bahia, a portaria prevê R$ 20 milhões em recursos federais adicionais do Fundo de Segurança Pública (FNSP).

Segundo o ministro, o dinheiro poderá ser aplicado na manutenção, compra de viaturas, equipamentos de inteligência e armas não letais.

Recorde de violência armada em Salvador em setembro

Os dados levantados durante o mês de setembro pelo Instituto Fogo Cruzado retratam o agravamento da violência armada em Salvador e na região metropolitana (RMS). A letalidade policial corresponde à metade das mortes por arma de fogo no período. No mês de setembro, foram mapeadas 177 vítimas na Bahia, 137 morreram e 40 ficaram feridas. Dessas, 46% foram atingidas em ações policiais. Os números da Bahia são maiores do que os do Rio de Janeiro.

De 1º a 28 de setembro, o Instituto registrou em Salvador e região metropolitana 71 tiroteios em ações policiais, que resultaram na morte de 68 pessoas e deixaram 13 feridas. Entre os mortos, 31 deles foram atingidos nas cinco chacinas policiais que ocorreram no período.

O Ministério Público da Bahia, a quem cabe o controle externo da atividade policial, vai investigar as três operações da PM do estado que deixaram 19 mortos desde a última sexta-feira (28). 

No Rio de Janeiro, historicamente marcado pela letalidade policial, os números registrados foram de 33 tiroteios em ações policiais, 13 pessoas mortas e 21 feridas. Entre os 13 mortos, seis foram atingidos na única chacina policial registrada no período.

Durante todo o ano de 2023, até dia 28 de setembro, foram mapeados 488 tiroteios durante ações policiais na Bahia, que resultaram em 398 mortos e 79 feridos. O número de mortos é 17% maior que o registrado no Rio de Janeiro (340 mortos ao longo do ano). 

Além disso, houve 27 chacinas decorrentes de operações policiais na região metropolitana de Salvador. Nessas chacinas, 114 pessoas morreram. Para efeito de comparação, no mesmo período foram registradas 22 chacinas policiais no Rio de Janeiro com 92 mortos.

Cenário atual vem sendo denunciado há anos

A letalidade policial na Bahia é um cenário denunciado pelos movimentos negros há anos, mas ganhou o debate nacional nos últimos meses, devido aos recordes que vêm batendo. Principalmente desde a publicação e repercussão dos dados do 16º Anuário Brasileiro de Segurança Pública, em julho.

Oficialmente, pela primeira vez a polícia da Bahia ultrapassou a do Rio de Janeiro no número de mortes em intervenções. Foram 1.464 pessoas mortas, ou seja, cerca de quatro pessoas por dia. Os dados são contabilizados desde 2015.

Segundo dados do Observatório de Segurança Pública em 2022, e também longe de qualquer surpresa, a cada 100 pessoas mortas pela polícia, 98 eram negras. 

Em setembro, a Afirmativa ouviu especialistas que traçam a linha do tempo que trouxe o estado até essa crise; como o racismo presente nesses números e a responsabilidade do PT, que governa a Bahia há cinco mandatos. Acesse a reportagem especial aqui.

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