Movimento de mulheres negras da Bahia marcha por Reparação e Bem Viver no 25 de julho

A mobilização reforçou o objetivo de levar 1 milhão de mulheres negras a Brasília para a 2ª Marcha Nacional de Mulheres Negras, que acontecerá em novembro de 2025

Da Redação 

Centenas de mulheres, organizações e coletivos do Movimento de Mulheres Negras da Bahia inundaram as ruas na tarde do último 25 de julho, Dia Internacional da Mulher Afro Latinoamericana, Afrocaribenha e da Diáspora. Elas saíram da Praça da Piedade e marcharam rumo ao Terreiro de Jesus, em Salvador (BA).

A Marcha das Mulheres Negras por Reparação e Bem Viver teve como foco a mobilização para a 2ª Marcha Nacional de Mulheres Negras, que acontecerá em novembro de 2025, com a expectativa de reunir 1 milhão de mulheres negras em Brasília.

Ao longo do percurso, as meninas e mulheres negras, ativistas e militantes celebraram o 25 de julho, cantaram, declamaram poesia e fizeram falas contra o feminicídio, o racismo religioso, ambiental, a violência sexual contra as meninas negras, e em defesa da juventude negra viva e de uma sociedade de Bem Viver.

Carregando placas por justiça e memória de mulheres negras que tiveram suas vidas interrompidas, como Elitânia de Souza e Mãe Bernadete, a marcha de 2024 também foi um grito pela vida das meninas pretas, como Aisha Vitória, de 8 anos, que foi assassinada pelo vizinho, de 43 anos, na última terça-feira (23), no bairro de Pernambués, em Salvador. Joseilson Souza da Silva confessou o crime e teve a prisão preventiva decretada, na quinta-feira (25).

Verônica Santos, coordenadora do Projeto Justiça Reprodutiva do Nordeste, do Instituto Odara, falou sobre a necessidade de militar pela liberdade das meninas. “Precisamos garantir às nossas que elas usufruam das suas trajetórias de vida. O que aconteceu com Aisha Vitória dá apenas nome e rosto ao que acontece com nossas meninas negras todos os dias. As meninas negras precisam estar livres para ir e vir”, declarou.

A integrante do Coletivo Pretas Pelo Clima, Sara Sacramento, chamou atenção para a importância de discutir o racismo ambiental e como ele assola a vida da população negra e pobre. 

“É necessário promover justiça ambiental e climática nesse país. Todo ano, quando a chuva chega na cidade de Salvador, as casas são inundadas, e continuamos tratando isso como causalidade. O Estado não se importa com as nossas vidas, e por isso não cuida dos nossos bairros.” 

A ativista também destacou a necessidade de que as vozes das mulheres negras sejam ouvidas. “As vozes das mulheres do campo, da cidade, quilombolas, dos terreiros. Precisamos ser ouvidas, nossas vozes precisam pautar a política. É por isso que estamos aqui, em luta, em marcha, nos articulando coletivamente.”

A Marcha também foi um momento de lembrar a luta contra o feminicídio e pela defesa da vida das mulheres. Segundo o 18º Anuário Brasileiro de Segurança Pública, houve crescimento de casos em todos os tipos de violência contra mulheres no Brasil em 2023: cerca de 258.941 foram vítimas de agressões decorrentes de violência doméstica e 1.467 foram vítimas de feminicídio em 2023.

“Estou aqui na marcha pelas mulheres, por justiça, Reparação e Bem Viver. Chega de violência! Nós ajudamos a construir a nossa sociedade, somos as que mais estudamos, mas não temos o direito de trabalhar e ganhar com a mesma dignidade, da mesma forma que os homens ganham”, declarou Selma Sena, do Movimento Negro Unificado (MNU).

A marcha integra a programação da agenda coletiva da 12ª edição do Julho das Pretas, que este ano reuniu 539 atividades realizadas por mais de 250 organizações em 23 estados e no Distrito Federal. O Julho das Pretas é uma ação criada pelo Odara – Instituto da Mulher Negra, em 2013. A programação tem 12 anos construindo incidência política com organizações e movimentos de mulheres negras do Brasil.

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