As ações foram protagonizadas pelo Grupo de Mulheres do Alto das Pombas e pela Rede de Mulheres Negras da Bahia
Por Andressa Franco, Karla Souza e Patricia Rosa
Imagem: Lorena Carneiro
Em Salvador (Ba), a manhã deste 8 de março – Dia Internacional da Mulher foi marcada por atos políticos na luta pela vida das mulheres negras, pelo Bem Viver, contra o feminicídio, a lesbofobia e pelo direito de estudar. Logo cedo, por volta das 8h, a comunidade do Alto das Pombas já se concentrava na praça do bairro para uma manifestação em prol do direito à educação das crianças e ao Bem Viver da comunidade.
O ato foi convocado pelo Grupo de Mulheres do Alto das Pombas (Grumap), organização que celebrava o aniversário de 42 anos de fundação, e nesta celebração, mobilizou mães, pais e membros da comunidade escolar, que se uniram no Movimento de Defesa do Direito à Educação das Crianças Negras do território.
O cerne da mobilização foi a denúncia ao descaso do prefeito de Salvador, Bruno Reis, e do Secretário de Educação Municipal, Tiago Dantas, que, de acordo a GRUMAP, estariam negando o início do ano letivo nas Escolas Municipais Tertuliano Góes e Conjunto Assistencial Nossa Senhora de Fátima.
Ambas as instituições de ensino deveriam ter sido realocadas para novos espaços em janeiro de 2024. No entanto, a Secretaria Municipal de Educação (SMED) é acusada de negligenciar o contrato e as reformas dos imóveis, bem como, as mudanças e o transporte escolar, o que estaria inviabilizando o início do ano letivo.
“Enquanto as crianças brancas, de escolas particulares começaram as aulas em janeiro, as crianças e adolescentes daqui ainda nem começaram o ano letivo. A Prefeitura, num projeto de reconstrução, não viabilizou a transferência para outro espaço. Nós estamos em movimento de reparação, o Estado Brasileiro nos deve terra, educação, saúde, saneamento, emprego e poder econômico”, declarou Rita Pereira Santa Rita, integrante do GRUMAP.
Carla Dantas, professora da Escola Nossa Senhora de Fátima, expressou sua preocupação com a situação enfrentada pela comunidade escolar. Com uma década de dedicação à escola, ela compartilha a angústia causada pelo atraso na mudança para um novo prédio. Segundo a professora, essa situação gera ansiedade nas famílias e priva as crianças de acesso à educação, especialmente aquelas cujos pais dependem da escola para trabalhar.
“A marcha hoje é muito importante para mostrar para comunidade que a gente se importa e que é necessário fazer esse movimento. Se trata realmente de um tratamento de cunho racista, porque são crianças negras de uma comunidade periférica de Salvador e que estão sem aula, sem contato com os professores, com a comunidade, com o ensino, com a aprendizagem, com a educação.”
Marina Passos, mãe e professora, compartilhou sua luta contra as adversidades impostas pela prefeitura em relação à educação de sua filha, Maisa Vitória, de 4 anos, aluna do Tertuliano de Goes. Com a reforma da escola constantemente adiada, Marina descreve o desgaste emocional e as dificuldades enfrentadas pela comunidade escolar, que incluem a transferência de alunos para escolas particulares devido à falta de comprometimento das autoridades municipais.
“Defender a educação e as crianças negras é de extrema importância porque nos calaram por muitos anos, então agora precisamos lutar. Até mesmo para ensinar para nossas crianças que nós somos capazes e que não podem fazer isso com a gente, esse racismo não pode acontecer”, explicou sobre a relevância do protesto.
Na próxima terça-feira (12), a comunidade realizará uma assembleia em parceria com a GRUMAP, contando com a presença de pais, professores, funcionários e alunos. O evento, que recebe o apoio do Odara – Instituto da Mulher Negra, será realizado na Paróquia Divino Espírito Santo, localizada no Bairro do Alto das Pombas, em Salvador (BA). O objetivo principal é organizar e mobilizar a comunidade em prol dos direitos dos estudantes da região, acionando tanto o Ministério Público quanto a Defensoria Pública.
Encontro no Terreiro de Jesus: Mulheres Negras unidas contra todas as formas de opressão
Já durante a tarde desta sexta-feira (8), um chamado passou pelo Pelourinho, em Salvador (BA), convocando todos para um ato pela vida das mulheres negras. No Terreiro de Jesus, às 14h, as mulheres que lutam contra o machismo, o sexismo, o racismo, o feminicídio, a misoginia e a lesbofobia se reuniram em um ato de convergência, em busca de justiça e igualdade.
Neste encontro, a mensagem foi: não se curvar ao sistema racista patriarcal é um ato de coragem e resistência. É um momento para celebrar a força e a determinação das mulheres, que enfrentam diariamente as diversas formas de opressão em nossa sociedade.
Para Ana Gualberto, integrante da Rede de Mulheres Negras da Bahia, a marcha representa um momento de agregação, onde todas podem sentir que não estão sozinhas. É um espaço para fortalecer os laços e unir ainda mais forças. “A marcha é um momento de agregar e de respirar um pouco coletivamente e ver que a gente não está só. Juntar mais ainda. Mas a gente volta para os nossos cotidianos, para a nossa luta diária de resistência à vida”, completou.
É nesse contexto que surge o desafio proposto para 2025: superar a expectativa de reunir um milhão de mulheres negras em Brasília, na 2ª Marcha Nacional de Mulheres Negras. Gualberto ressalta que apesar dos obstáculos financeiros, as mulheres se mostram resilientes e determinadas a alcançar esse objetivo. “A gente vai mostrar que é possível, não só aumentar em número, mas enquanto em qualidade das nossas denúncias e dos nossos pleitos. Vamos estar lá esmagadoramente ocupando, empretecendo Brasília, trazendo toda a nossa pauta e todo nosso axé, toda a nossa vivência, para juntas tentarmos mais uma vez buscar uma sociedade com equidade”.
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