Da Redação
Entre 2012 e 2022, quase 150 mil homens negros morreram vítimas de arma de fogo, contra 38,2 mil homens brancos no mesmo cenário. O número é quatro vezes maior.
Os dados são do Boletim Saúde da População Negra, projeto do Instituto de Estudos para Políticas de Saúde (IEPS) e do Instituto Çarê. O estudo tem como objetivo subsidiar pesquisas sobre a saúde da população negra.
A pesquisa mostra que as taxas de mortalidade de homens negros são ainda mais altas em relação as de homens brancos na faixa etária de 18 a 24 anos. 2017 foi o ano com maior registro de homicídios de homens negros, foram contabilizados 17,6 mil, contra 4,1 mil homens brancos.
Já o ano de maior registro de homicídios de homens brancos foi 2016, com 4,2 mil mortes. O número consegue ser ainda menos da metade do menor registro de homicídios de homes negros, em 2019, que somou 10,8 mil vítimas.
Os autores da pesquisa, Rony Coelho e Manuel Mahoche, explicaram ao G1 que “Evidências acadêmicas pautam o reconhecimento das desigualdades estruturais e históricas e revelam uma maior vulnerabilidade da população negra às agressões, manifestando-se em indicadores de saúde desfavoráveis e ressaltando a necessidade premente de políticas públicas e intervenções em saúde direcionadas”.
Afirmaram ainda que, como as desigualdades enfrentadas pela população negra em contextos de violência e saúde são profundas e multifacetadas, é necessário que as respostas a esse quadro envolvam, além da própria assistência à saúde, áreas como educação, habitação, segurança pública e justiça social.
Na média mensal, as vítimas foram 4 mil negros contra 1,1 mil brancos. No último ano da série, 2022, foram registrados 2,7 mil homicídios de homens negros e 747 de homens brancos.
Olhando para as razões das taxas de internações – indicador para quantas vezes mais um grupo racial sofreu em relação a outro – Pará, Roraima e Pernambuco são os estados com maior número de vezes em que negros são internados por agressão a mais do que brancos.
Número de mulheres negras assassinadas também é maior
A pesquisa também concluiu que, no mesmo período de 2012 a 2022, 13,6 mil mulheres negras morreram em decorrência de disparo de arma de fogo. Enquanto as mulheres brancas foram 5,5 mil.
“No cenário geral, homens e mulheres negras apresentam mais incidência de internações por agressões ao longo da série histórica do que seus congêneres brancos. Destaca-se ainda que homens negros internam mais por disparo de arma de fogo, ao passo que mulheres negras internam mais por agressões envolvendo objetos cortantes, penetrantes ou contundentes”, explica o documento.
O estudo aponta que 10,3 mil mulheres negras foram internadas devido à agressão por objetos cortantes ou penetrantes, como facas. O número de mulheres brancas internadas pelo mesmo motivo foi de 4,6 mil.
O levantamento considera os registros médicos de agressão, de acordo com a Classificação Internacional de Doenças (CID), que levaram à internação ou à morte do paciente.