Pedagoga, ativista e Ialorixá, Thiffany Odara é a primeira mulher trans a lançar candidatura para o cargo de Ouvidora da Defensoria Pública do Estado da Bahia 

Thifanny recebe apoio de ativistas, organizações de movimentos sociais, comunidade LGBTQIAP+ e comunidade religiosa de matriz africana

Por Instituto Odara

Nesta sexta-feira (10), a ativista Thiffany Odara lançou sua candidatura para o cargo de ouvidora-geral da Ouvidoria Externa Cidadã da Defensoria Pública do Estado da Bahia. Mulher negra e Yalorixá do Terreiro Oya Matamba, em Lauro de Freitas (BA), Thiffany é a primeira mulher trans a concorrer ao cargo – por onde já passaram outras mulheres negras da sociedade civil baiana. 

Thiffanny é mestranda do Programa de Pós-Graduação em Educação e Contemporaneidade (PPGEDUC – UNEB), além de especialista em Gênero, Raça e Sexualidade. É a atual vice-presidenta do Conselho de Mulheres de Lauro de Freitas e Conselheira do Conselho  Municipal de Promoção de Igualdade Racial (CMPIR), também em Lauro de Freitas – BA. 

Com um longo currículo dedicado à promoção e defesa dos direitos LGBTQIAP+, Thiffany atualmente é membra do Fórum Nacional de Travestis e Transexuais Negras (FONATRANS). Ao longo da sua trajetória nos movimentos sociais, já desenvolveu ações e projetos voltados para educação, empregabilidade e redução de danos, sobretudo da comunidade LGBTQIAP+. 

Ativistas, organizações de movimentos sociais negros, de mulheres e LGBTQIAP+ vêm coletivamente construindo esta candidatura potente e inédita. “Minha candidatura nasce a partir da insurgência que é o movimento de travestis e o movimento de mulheres negras. Nasce a partir da reflexão sobre os espaços estratégicos que uma travesti precisa ocupar para participar da tomada de decisões que impactam nos movimentos de travestis, de mulheres negras, de população em situação de rua e de tantos outros corpos que são atravessados pela misoginia, transfobia e racismo”, explica Thiffany.

Movimentos declaram apoio à Thiffany

Keila Simpson, presidenta da Associação Nacional de Travestis e Transexuais (ANTRA), destaca a importância de apoiar a candidatura de Thiffany e de ter à frente da ouvidoria uma mulher negra trans. “Fazer campanha para Thiffany ser a ouvidora para nós é mais que uma tarefa, é uma missão de vida, colocar pessoas trans, mulheres negras, pessoas  que estão à margem da sociedade e lugares de destaque. É dever nosso”, afirma ela

Valdecir Nascimento, fundadora do Odara – Instituto da Mulher Negra e integrante da Articulação de Organizações de Mulheres Negras Brasileiras (AMNB), defende a existência de uma Defensoria e uma Ouvidoria mais democrática, participativa e diversa.

“Thiffany Odara traz a dinâmica, a movimentação e a diversidade que o movimento de mulheres negras acredita ser parte fundamental da Ouvidoria da Defensoria Pública da Bahia. Precisamos de uma defensoria mais democrática e participativa”, enfatiza Valdecir.

O Ogan Alan Oliveira (Terreiro Ilê Axé Araká), diretor e apresentador do programa Voz do Axé e representante da Frente Nacional Makota Valdina, afirma que “ter Thiffany na Ouvidoria é ter também representatividade e fortalecimento para o povo de religiões de matriz africana.”

Entre os movimentos sociais que já anunciaram apoio à candidatura, destacam-se: ANTRA; Instituto Odara; Rede Afro LGBT; Revista Afirmativa – Coletivo de Mídia Negra; TamoJuntas; Fórum Baiano LGBT; Potências Lésbi; A voz do Axé; Casa Marielle Franco Brasil; Articulação Nacional de Psicólogas(o/e) e Pesquisadoras(o/e) Negras (o/e) (ANPSINEP/Núcleo Bahia); Juristas Negras; Rede Vivas; GAPA Bahia; Vai ter Gordas sim; Koinonia; Connatt – Conexão Nacional de Mulheres Trans e Travestis de Asé; Rede Nacional de Feministas Antiproibicionistas; Mãe Jacira de Oya (Remas); Edna Pinho (Movimento de Mulheres do Subúrbio Ginga) e Eduardo Machado (Coletivo Incomode).

Acompanhe a campanha de Thiffany Odara para a Ouvidoria Externa Cidadã da Defensoria Pública do Estado da Bahia através das redes sociais.

Sobre a Ouvidoria

Criada em 2012, a Ouvidoria Externa Cidadã da Defensoria Pública do Estado da Bahia, é um espaço que visa contribuir para a garantia de direitos da sociedade que busca os serviços da Defensoria. Nela, um(a) representante da sociedade civil é eleito(a) e assume o cargo de ouvidor(a)-geral e por atribuição, deve consolidar e ampliar as ações da Defensoria Pública em um mandato de dois anos.

As etapas do processo eleitoral, incluem votação de representações de movimentos sociais vinculadas aos conselhos estaduais de direitos da Bahia e sabatina com os membros do Conselho Superior da Defensoria Pública, que por meio de voto aberto, escolhem a nova representação para o cargo.

Nesta sexta-feira (10) foi aberto o O EDITAL Nº 03.2023, para decidir o nome do novo(a) ouvidor(a) da Defensoria Pública do Estado da Bahia para o biênio 2023-2025.

Podem se candidatar ao cargo, qualquer pessoa da sociedade civil que tenha formação em nível superior e currículo com histórico de participação, por no mínimo dois anos, em trabalhos nas áreas em que a Defensoria atua.

Há doze anos, a Defensoria segue uma tradição de abraçar a participação efetiva e estratégica de mulheres negras, contando com um largo histórico de eleger essas mulheres. Nesse período, já passaram pelo cargo, a advogada Anhamona de Brito, a socióloga Vilma Reis e duas assistentes sociais, Tânia Palma e a atual ouvidora, Sirlene Assis. Todas elas mulheres negras e com trajetórias ligadas aos movimentos sociais.

Compartilhar

Deixe um comentário

plugins premium WordPress