Pesquisadores pedem retirada da pintura “Alegoria da Lei Áurea” da Escola de Belas Artes da UFBA

Um abaixo-assinado feito por pesquisadoras/es de Pós-graduação em Artes Visuais (PPGAV) da Universidade Federal da Bahia (UFBA) reivindica a retirada da exibição da tela “Alegoria da Lei Áurea” (1888)

Por Elizabeth Souza

Imagem: Reprodução

Um abaixo-assinado feito por pesquisadoras/es de Pós-graduação em Artes Visuais (PPGAV) da Universidade Federal da Bahia (UFBA) reivindica a retirada da exibição da tela “Alegoria da Lei Áurea” (1888), do pintor  espanhol Miguel Cañizares, nas dependências da Escola de Belas Artes (EBA) da UFBA. De acordo com os estudiosos, o pedido dialoga com a necessidade da EBA pautar “efetivamente perspectivas antirracistas em suas ações e, consequentemente, na gestão de seu patrimônio artístico”.

“Posicionando-se aos pés de Princesa Isabel, em gesto de gratidão efusiva, estão três mulheres negras, uma das mulheres pretas segura um bebê preto, todas com vestes que as distinguem da nobreza ali representada”. É o que aponta um dos trechos da carta vinculado ao abaixo-assinado. Os pesquisadores apresentam as disparidades entre a forma como pessoas negras e brancas estão dispersas na obra de arte, denunciando o falso discurso de salvação que ainda paira sobre a imagem da  Princesa Isabel e, consequentemente, sobre “abolição” da escravidão no Brasil. 

“São questões como estas que reduzem a possibilidade de pertencimento, à medida em que naturaliza a subalternização dos corpos negros, a partir, por exemplo, do patrimônio que orna suas paredes, como é o caso da pintura em questão”,  explica, em resposta conjunta o grupo de pesquisadores responsáveis pelo abaixo-assinado composto por: Adriano Machado, Aislane Nobre, Aline Brune, Ana Luisa Ribeiro, Augusto Henrique, Joyce Delfim, Patrícia Martins e Uriel Bezerra.

“Como uma escola de arte, espera-se da EBA a dedicação a estudos prático-teóricos de imagens, de processos artísticos e da história da arte e, portanto, uma atuação consciente das relações entre arte e seus regimes ideológicos”, completam.

Publicado nas redes sociais, o abaixo-assinado dividiu opiniões, o que era perceptível nos comentários deixados por seguidores. Um deles classificou como “equívoco” o objetivo do documento: “o mérito da obra é justamente provocar o debate, ressaltar as contradições e suscitar reflexões”, escreveu. Questionados sobre o assunto, os pesquisadores destacam que a retratação da abolição sem o protagonismo do povo negro é uma história mentirosa. 

“A história da abolição conta com figuras emblemáticas, muitas delas baianas e negras, e não era comum as ver retratadas na entrada dos salões nobres. Chamar a carta de equívoco aponta a conivência com os silenciamento e ausências de vozes não brancas nos espaços tradicionais de ensino das Belas Artes”, frisa o grupo. 

Endereçada ao órgão máximo da EBA, a carta apresenta três principais reivindicações: a retirada imediata da pintura em exposição; a retratação pública da Escola de Belas-Artes com discentes atuais e ex-discentes a ser definida com ampla participação das partes interessadas; e a mudança de título da Galeria Cañizares para Galeria Yêdamaria – artista, pesquisadora e primeira professora negra da Escola – como forma de reparação simbólica e histórica ainda no ano de 2023. 

Sobre o diálogo que tem sido feito com a universidade em prol dessas reivindicações, os pesquisadores do PPGAV informam ter havido no último 31 de outubro uma reunião de congregação  (uma espécie de assembleia geral com as representações colegiadas e de setores da Escola de Belas-Artes) para debater o assunto, não havendo “sinalização de concessão às demandas”. “Foi informado que a decisão de retirá-la deve passar por uma nova congregação e obter ampla adesão. Sendo assim, não há nada resolutivo”, concluíram. 

A reportagem procurou a UFBA para obter mais informações sobre o assunto, mas não obtivemos respostas até o fechamento da matéria.

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