Salvador reúne as piores taxas em sete dos 40 indicadores sociais analisados pelo Mapa das Desigualdades entre as Capitais

Estudo foi publicado pelo Instituto Cidades Sustentáveis. As capitais do Norte e do Nordeste são as que ocupam as últimas posições do Mapa. Já os primeiros lugares estão concentrados no Sul e Sudeste.

Por Andressa Franco

Salvador reúne as piores taxas em sete dos 40 indicadores sociais analisados pelo Mapa da Desigualdade entre as Capitais, publicado pelo Instituto Cidades Sustentáveis (ICS) no último dia 26 de março.

A capital baiana figura nas piores posições nos indicadores de erradicação de pobreza, erradicação da fome, trabalho digno e homicídio juvenil.

Os indicadores são baseados nos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, agenda mundial estabelecida pela ONU (Organização das Nações Unidas), com 169 metas a serem atingidas até 2030. Para chegar aos resultados, o Mapa usa os dados públicos mais recentes em cada indicador. A publicação traz um recorte da desigualdade que distancia os locais menos providos de serviços e infraestrutura daqueles que oferecem condições básicas para uma vida digna e decente.

“As capitais brasileiras exercem um papel central nas relações políticas e socioeconômicas da unidade da federação. Elas concentram uma parte significativa do fluxo de bens e serviços do país e são polos de influência que se constituíram como espaços vitais de tomada de decisão. […] Elas abrigam mais de 43 milhões de pessoas – ou 22% da população”, diz um trecho da apresentação do Mapa. 

Salvador figura nas piores posições do ranking em PIB per capita, desnutrição infantil, população abaixo da linha da pobreza, taxa de desocupação e jovens vítimas de homicídio, entre outros. São os ODS’s:

– Erradicação da Pobreza: no indicador de proporção de pessoas com rendimento real efetivo domiciliar per capita inferior a US$1,9 por dia;

– Erradicação da Fome: no indicador de desnutrição infantil;

– Educação de qualidade: no indicador de taxa de distorção idade-série nos anos finais do Ensino Fundamental (negros/não negros);

– Trabalho digno e crescimento econômico: tanto no indicador de PIB per capita, quanto no indicador de taxa de desocupação;

– Paz, justiça e instituições eficazes: no indicador de homicídio juvenil.

Em comparação a Florianópolis (SC), que apresenta a melhor taxa em erradicação de pobreza (1,10% da população vivendo com US$ 1,90 por dia), Salvador tem 10 vezes mais pessoas abaixo da linha da pobreza (11,15%). 

Nos indicadores de fome, a capital baiana detém os piores números de desnutrição infantil. De acordo com informações do SUS, 4,03% das crianças de até 5 anos na cidade estavam desnutridas em 2021, ano do dado mais recente. Enquanto isso, a líder na categoria, Teresina (PI), acumula uma taxa de 0,44%.

Já nas taxas de desocupação, 16,7% da população soteropolitana acima de 14 anos está em condição de desemprego. O topo do ranking nesse quesito é de Campo Grande (MS), onde a porcentagem é de 3,4% em Campo Grande (MS).

“Lamentavelmente, Salvador tem chamado atenção por índices ruins, mesmo sendo governada por gestões que supostamente investem mais em questões sociais. A cidade tem regiões onde a pobreza é alta e os níveis de moradia e saúde são muito precários, o que alimenta distúrbios como a violência urbana”, declarou Jorge Abrahão, coordenador-geral do ICS.

Taxa de homicídio juvenil

Salvador também chama atenção no que se refere aos índices de violência. A cidade tem a pior taxa de homicídio de jovens de 15 a 29 anos de idade entre todas as capitais do país. São 322,5 mortes a cada 100 mil habitantes. Em comparação, com a menor taxa, São Paulo contabiliza cerca de 7,76 mortes dessa faixa etária a cada 100 mil habitantes.

Ao comentar os dados do Mapa da Desigualdade, Jorge Abrahão, chamou atenção para a gravidade da letalidade policial em Salvador. “Muitas vezes, a repressão atinge jovens negros nas grandes cidades brasileiras”. O coordenador do ICS lembrou ainda que, para a ONU, uma cidade, ou um país, que tenha mais do que 10 mortes por 100 mil habitantes é considerada em guerra civil.

Desigualdades regionais 

De modo geral, as capitais do Norte e do Nordeste são as que ocupam as últimas posições do Mapa da Desigualdade. Já os primeiros lugares estão concentrados no Sul e Sudeste, com Curitiba (PR), seguida por Florianópolis (SC) e Belo Horizonte (MG). A classificação do ICS é baseada no somatório de pontos a partir da análise dos 40 indicadores. Curitiba somou 677 pontos, enquanto Porto Velho (RO), ocupa a última posição com 373 pontos.

As desigualdades regionais se destacam principalmente em áreas como renda, saúde e segurança pública. Em indicadores como população abaixo da linha da pobreza, mortalidade infantil e homicídios, as taxas de capitais do Sul, Sudeste e Centro-Oeste são até dez vezes superiores às do Norte e Nordeste.

De acordo com dados do Censo IBGE de 2022, a população parda foi o grupo com maior percentual na população residente da região Norte (67,2%). Também o Nordeste (59,6%) e o Centro-Oeste (52,4%) registraram números acima da média nacional. Enquanto as regiões Sul (21,7%) e do Sudeste (38,7%) registraram percentuais abaixo da média.

A população preta tem seu maior percentual concentrado no Nordeste (13,0%), à frente do Sudeste (10,6%), do Centro-Oeste (9,1%), do Norte (8,8%) e do Sul (5,0%). As proporções de população indígena também se destacam no Norte (4,3%), Nordeste (1,0%) e no Centro-Oeste (1,2%), superando a média nacional. Enquanto o Sudeste (0,1%) e o Sul (0,3%) contam com os menores percentuais.

Já a população branca alcançou maior percentual na região Sul (72,6%). No Sudeste, esse grupo representa 49,9%. Nas regiões Centro-Oeste (37,0%), Nordeste (26,7%) e Norte (20,7%), os percentuais estão abaixo da média nacional.

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