Por Patrícia Rosa
Em apenas uma semana, ao menos três mulheres negras foram vítimas de violência doméstica e feminicídio em Salvador. Nesta quarta-feira (16), Jaqueline Viana Moura, de 43 anos, foi encontrada morta com sinais de estrangulamento no Bairro da Paz. Segundo informações da Polícia Civil, o principal suspeito do crime é o namorado da vítima.
O feminicida, cuja identidade ainda não foi formalmente confirmada pela polícia, foi linchado por populares após o crime. Ele chegou a ser socorrido e levado para uma unidade hospitalar, mas não resistiu aos ferimentos.
Também faz parte desta triste estatística a morte de uma jovem de 27 anos, assassinada na última segunda-feira (14) no bairro São João do Cabrito. O suspeito é o ex-companheiro da vítima, Paulo Sérgio Santos Cerqueira, que se apresentou na Delegacia Especial de Atendimento à Mulher de Periperi na quarta-feira (16) e foi preso.
Segundo a Polícia Civil, antes do feminicídio o suspeito foi preso por descumprimento de medida protetiva, mas foi solto em audiência de custódia. Ele usava tornozeleira eletrônica, que foi rompida antes do crime.
Paulo matou a ex-companheira com golpes de faca, na frente de duas crianças, o filho do casal, de três anos, e o filho da vítima, de sete. Ele estava foragido desde o dia do crime. A vítima deu entrada no Hospital Geral do Estado (HGE), com ferimentos graves, incluindo hematomas no rosto e pescoço, além de um corte profundo no ombro esquerdo, mas não resistiu.
Mulher sofre ataque com ácido
Na terça-feira (15), uma mulher de 41 anos foi atacada com ácido pelo ex-companheiro no bairro do Uruguai, também na capital baiana. O agressor foi identificado como Jeferson Mendes da Silva. Após o crime, ele ingeriu veneno conhecido como “chumbinho” e morreu.
A vítima, Tamara Rafaele Nascimento, sofreu queimaduras em diversas partes do corpo e permanece internada no Hospital Geral do Estado (HGE). Familiares relataram que ela teve um relacionamento de cerca de três anos com o agressor e havia encerrado o vínculo há um mês. Desde então, vinha sendo perseguida por ele.
De acordo com a polícia, Jeferson foi visto na feira de São Joaquim, onde teria comprado o veneno. Ele passou mal durante a travessia no ferry boat rumo à Ilha de Itaparica e foi levado à Unidade de Pronto Atendimento de Mar Grande, mas chegou ao local sem vida.
Mulheres negras são principais vítimas da violência
De acordo com o 18º Anuário Brasileiro de Segurança Pública, 3.930 mulheres foram mortas em 2023. Destas, 1.467 em decorrência de feminicídio, o que equivale a uma vítima a cada 6 horas. O levantamento revela uma estabilidade no perfil das mulheres que são mortas de forma violenta, consolidada ao longo dos anos: elas são negras (66,9%), com idade entre 18 e 44 anos (69,1%). As mulheres negras são as principais vítimas tanto de feminicídio, quanto das demais formas de mortes violentas intencionais, como latrocínio, intervenção policial, homicídios que não são classificados como feminicídio. Em 2023, 63,6% das vítimas de feminicídio foram mulheres negras.
Na Bahia, também em 2023, foram contabilizados 108 casos de feminicídio, 611 mulheres vítimas de homicídio e 209 tentativas de feminicídios. O estado ocupa a terceira pior posição no país em relação à taxa de homicídios contra mulheres.
Denuncie violência contra mulher através da Central de Atendimento
Ligue para o 180, denuncie e receba orientações sobre os passos a serem tomados para buscar segurança e apoio. O serviço ajuda a conectar vítimas a uma rede de proteção que pode incluir abrigos, atendimento jurídico e suporte psicológico.