Seminário em Salvador (BA) debate desafios da comunicação a partir das conexões afrodiaspóricas e da luta antirracista

Evento marcou lançamento do Instituto Commbne, que cria uma rede de intercâmbio para fomentar a comunicação feita sobre e para a Diáspora Africana. Participaram nomes como Ana Flávia Pinto, Rosane Borges e Viviane Ferreira.

Evento marcou lançamento do Instituto Commbne, que cria uma rede de intercâmbio para fomentar a comunicação feita sobre e para a Diáspora Africana. Participaram nomes como Ana Flávia Pinto, Rosane Borges e Viviane Ferreira.

Por Andressa Franco

Imagem: Elis Freire

Na última segunda-feira (13), a Faculdade de Comunicação da Universidade Federal da Bahia (Facom – UFBA), em Salvador (BA), recebeu reflexões e debates sobre os desafios da comunicação no contexto da diáspora africana e do enfrentamento ao racismo.

O “Seminário Commbne – Conexões Afrodiaspóricas” promoveu trocas entre estudantes, pesquisadores, ativistas e profissionais de comunicação. O evento marcou o lançamento oficial do Instituto Commbne: Comunicação baseada em raça, inovação e etnia.

O Instituto tem como missão promover uma rede de intercâmbio de vivências e narrativas entre estudantes, profissionais e admiradores das diversas áreas da comunicação para fomentar a comunicação feita sobre e para a Diáspora Africana.

“Eu sou de uma época em que, infelizmente, essa faculdade não era tão aberta a discutir comunicação numa perspectiva afrodiaspórica. Fico muito feliz de voltar no evento da Commbne, recebendo intelectuais de referência”, discursou o diretor secretário do Instituo, Luís Fernando Lisboa, jornalista e mestre em cultura e sociedade pela UFBA.

Referências do campo palestraram sobre comunicação antirracista

Quem abriu as atividades do Seminário Commbne foi o sociólogo, investigador e pan-africanista Miguel de Barros (Guiné-Bissau), através de conferência online. O ativista falou sobre a importância de espaços de diálogo e partilha de saberes plurais contracoloniais, incluindo as diásporas africanas.

“Sobretudo, a comunicação é uma instância de poder, e as sociedade se organizaram para ter o monopólio desse poder e exercê-lo. A comunicação enquanto agência foi utilizada como suporte da própria colonização através das dinâmicas missionárias, mas também através das dinâmicas bélicas, letais”, explicou.

Em seguida, também de forma remota, a cineasta e roteirista Viviane Ferreira, diretora-presidente da Spcine e mestra pela Universidade de Brasília (UnB), compartilhou reflexões sobre o contexto do cinema e políticas afirmativas. Viviane é a segunda mulher negra a dirigir um longa-metragem no Brasil – “Um Dia com Jerusa” (2021) – e também é diretora do filme “Ó Paí, Ó 2”, com lançamento previsto para o dia 23 de novembro.

A cineasta destacou que o audiovisual brasileiro está em momento de retomada e reconstrução de políticas públicas, mas em uma perspectiva da reparação histórica e combate aos vícios históricos de exclusão sobre os quais se alicerçou. “Seguir realizando um audiovisual excludente do ponto de vista de raça, gênero, territorialidade, reduz a possibilidade do Brasil disputar o espaço de produtor audiovisual globalmente”

Nesse sentido, Viviane chama atenção para a importância de o país localizar pontos de aliança pelo mundo. Para ela, com 56% da população composta por pessoas negras, o Brasil não pode ignorar sua vocação de conexão com o continente e as diásporas africanas.

A programação da manhã seguiu com o debate sobre os 190 anos de imprensa negra, completos em 2023, contando com as contribuições de Ana Flávia Magalhães Pinto. Ela é diretora do Arquivo Nacional, doutora em história pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), além de professora do Departamento de História e do Programa de Pós-Graduação em Direitos Humanos da UnB. Ana Flávia também é jornalista, e autora do livro “Imprensa negra no Brasil do século XIX” (2010).

“O que temos de informação sobre a imprensa decolonial no continente africano? Isso é objeto do nosso interesse num cenário como esse?”, questiona. A diretora do Arquivo Nacional discorreu ainda sobre a importância da história pública, como espaço potente de confluência entre história, memória e comunicação. “Mesmo com nossas melhores intenções, temos feito manutenção de uma matriz de memória que nos desumaniza, nos limita às imagens da escravidão.”

Ao lado de Ana Flávia, compôs a mesa Rosane Borges, jornalista, pesquisadora e doutora em ciências da comunicação pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP). Coordenadora da escola online Longa, ela é autora de diversos livros sobre comunicação, entre eles: “Espelho infiel: o negro no jornalismo brasileiro” (2004), “Mídia e racismo” (2012) e “Esboços de um tempo presente” (2016).

Rosane destacou a importância da descolonização do olhar a partir da construção de vínculo. “Vínculo é o termo fundante da comunicação. Mas a primeira consequência do racismo é criar processos de desvínculo: ‘eu não construo vínculos com quem não é semelhante a mim, eu sequer me comovo com esses corpos’.”

No período da tarde, foi realizado um encontro entre grupos de pesquisa de comunicação da UFBA e Universidade do Estado da Bahia (UNEB), para pessoas convidadas, em uma “Roda de Conversas sobre Conexões Afrodiaspóricas”.

O evento teve o apoio do Centro de Comunicação, Democracia e Cidadania (CCDC) e do Centro de Estudo e Pesquisa em Análise do Discurso e Mídia (CEPAD), ambos vinculados à FACOM/UFBA; do grupo de pesquisa RHECADOS – Hierarquizações raciais, Comunicação e Direitos Humanos, da UNEB; do Grupo de Pesquisa (GP) Comunicação Antirracista e Pensamento Afrodiaspórica do Intercom; da Fundação Friedrich Ebert Brasil (FES); do Instituto Beja; do Projeto Seta, através da ActionAid; da Associação Bem-Te-Vi Diversidade; do Conselho Pan-Africano no Brasil (PAC Brasil); e da Secretaria de Promoção da Igualdade Racial do Estado da Bahia.

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