Vereador Pablo Almeida profere fala transfóbica contra a parlamentar Juhlia Santos durante sessão em Belo Horizonte 

Por Patrícia Rosa

Durante uma plenária na Câmara de Belo Horizonte no dia 08 de abril, onde se discutia o Projeto de Lei nº 825/2024 sobre a leitura da Bíblia em escolas públicas e particulares, a vereadora Juhlia Santos (PSOL) foi alvo de uma fala transfóbica proferida pelo vereador Pablo Almeida (PL). Em tom ofensivo, ele declarou: “Não adianta molduras boas para quadros ruins. Para você melhorar, precisa nascer de novo.”

A parlamentar Juhlia Santos é a primeira mulher quilombola e travesti a ocupar uma cadeira na Câmara Municipal de BH. De acordo com ela, a fala transfóbica aconteceu logo depois da votação, quando ela não estava mais presente. “Não me dando direito nem de resposta e nem de exigir uma retratação A gente entende que uma ofensa, uma violência como essa cabe denúncia porque foi um ataque direto e explícito à minha pessoa” afirmou a vereadora.

O vereador compartilhou sua fala em sua rede social e enfatizou a expressão “nascer de novo”. 

“A gente entende que não teve nenhum movimento de se repensar, pelo contrário, ainda se orgulha de proferir essa violência num plenário”, analisou Julia.

No dia seguinte, a vereadora entrou com um pedido cobrando um posicionamento e uma advertência diante da fala ofensiva. “Está previsto no regimento interno da casa, no código de conduta, onde atos desse tipo devem ser responsabilizados. E nessa espera a gente sabe que várias forças podem aí sussurrar para uma corroboração da impunidade, mas nós vamos seguir atentas, acompanhando bem de perto como vai se dar o encaminhamento dessa denúncia, dessa violência exposta” afirmou. A Procuradoria da Câmara Municipal de Belo Horizonte (CMBH) está analisando o pedido de punição.  

A parlamentar ainda declarou que, na próxima reunião da Comissão de Mulheres, vai apresentar uma moção de repúdio, sugerindo que a comissão se posicione em relação à violência política que ela vem sofrendo na Câmara de Belo Horizonte.

Em apoio a parlamentar, o PSOL manifestou o seu repúdio nas redes sociais, declarando que o vereador quebrou o decoro, citando a vereadora de maneira jocosa. “A Coordenação da Rede Afro LGBT de Minas Gerais, reafirma a parceria e o carinho que temos pela Vereadora Juhlia Santos, que vem sofrendo diversas violações de seus colegas. Demarcados por fim, que sonhamos com o dia em que Belo Horizonte terá mais representações como Jhulia, que jamais precisará nascer de novo para nos representar com maestria e competência”, declarou o PSOL.

Câmara aprova em segundo turno o Projeto que autoriza a leitura da Bíblia em escolas

O projeto de Lei 825/2024, de autoria da  vereadora Flávia Borja (Democracia Cristã), foi aprovado no dia 08 de abril, com  28 votos favoráveis, oito contrários e duas abstenções. A proposta visa autorizar a leitura da Bíblia em escolas públicas e particulares da capital mineira. 

De acordo com o PL, as histórias bíblicas utilizadas deverão auxiliar os projetos escolares de ensino correlatos nas áreas de história, literatura, ensino religioso, artes e filosofia, bem como outras atividades pedagógicas.

A vereadora Juhlia Santos, votou contra o projeto e afirmou que outras fontes religiosas pudessem ser consultadas.

“Isso não é só um detalhe. É mais uma tentativa de romper com o princípio do Estado laico, usando a educação como ferramenta de controle e doutrinação. A escola deve ser um espaço de conhecimento livre, onde todas as crenças (e a ausência delas) sejam respeitadas. Não é um lugar onde uma única visão religiosa seja imposta”, declarou a vereadora.

Iza Lourença (PSOL), também foi contrária a medida. Em suas redes sociais ela afirmou que o projeto vai segregar e intimidar crianças e adolescentes, que não são cristãos. “O problema não é a Bíblia, mas nossa educação é laica”,  afirmou Iza Lourença.

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