Benny Briolly denuncia racismo religioso na Câmara Municipal de Niterói (RJ)

Na última quinta-feira (10), a primeira vereadora transexual eleita na cidade de Niterói, e pré-candidata a deputada estadual do Rio de Janeiro, Benny Briolly (PSOL), denunciou ter sofrido racismo religioso na Câmara Municipal da cidade.

A vereadora recebeu ataques enquanto defendia projeto de lei que pretendia instituir 12 de novembro como o “Dia de Maria Mulambo protetora de Niterói”

Por Andressa Franco

Imagem: Reprodução Redes Sociais

Na última quinta-feira (10), a primeira vereadora transexual eleita na cidade de Niterói, e pré-candidata a deputada estadual do Rio de Janeiro, Benny Briolly (PSOL), denunciou ter sofrido racismo religioso na Câmara Municipal da cidade.

O caso aconteceu quando a parlamentar estava apresentando um projeto de lei que pretendia instituir 12 de novembro como o “Dia de Maria Mulambo protetora de Niterói”, entidade cultuada em religiões de matriz africana. Cenas gravadas durante a sessão mostram pessoas contrárias ao PL condenando a proposta e gritando frases como “Sai fora, macumbeiro”, “Protetor é Jesus Cristo” e “Niterói é de Jesus”.

Em um post nas redes sociais, Briolly informou que havia convidado personalidades de axé para participar da votação e mobilizar a aprovação do projeto. Mas que a sessão foi interrompida devido aos gritos e xingamentos de bolsonaristas da Casa.  Além disso, conta que foi ameaçada.

“A branquitude busca silenciar nossas divindades africanas e esse Projeto de lei é justamente para transformar essa perspectiva racista religiosa. Mas a Câmara escolheu intensificar o racismo religioso na cidade. Esse cenário é lastimável e inaceitável! Precisamos estabelecer o estado laico em Niterói! Até quando o racismo religioso vai continuar atrasando as pautas políticas de progresso pro nosso município?”, escreveu.

A vereadora formalizou a ocorrência na Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (Decradi), e a votação foi adiada para esta quarta-feira (16).

Em entrevista à CNN, o vereador Douglas Gomes (PTC), acusado por Briolly de proferir ataques de racismo religioso e xingamentos, disse que não ocorreram ofensas direcionadas a vereadora ou a seus apoiadores.

“Minha visão é de um parlamentar terrivelmente cristão e conservador e não abro mão dos meus valores e princípios e, portanto, sou radicalmente contra este projeto e qualquer outro que vá contra minha fé”, disse.

Em outro post, a vereadora comemorou a repercussão do caso na mídia. “Nossa fé não será silenciada. O Brasil viveu 300 anos de escravização. E neste processo a cultura e a religião do povo africano sofreu uma tentativa de apagamento. A demonização que vivemos hoje é resultado da imposição de religiões cristãs em âmbitos políticos e sociais. Por isso, um projeto de lei que honra Maria Mulambo e as religiões de matrizes africanas é avançar na pauta antirracista”, finalizou.

O presidente da Câmara Municipal de Niterói, vereador Milton Carlos Lopes, se pronunciou através de nota, dizendo que “em razão da matéria proposta pela vereadora Benny, ocorreram debates acalorados com posicionamentos diversos, dentro do respeito que o parlamento exige e o Estado de Direito determina. Tudo dentro do campo da ideia e convicção”.

A Casa Legislativa informou ainda que não havia sido noticiado por qualquer parlamentar nenhum tipo de ofensa e “caso tenha ocorrido eventual racismo de qualquer espécie, que ainda não foi noticiado pelo ofendido, assim que formalizado, será prontamente adotada as medidas cabíveis para a sua apuração e punição”.

Briolly é uma das muitas mulheres negras que continuam constantemente sendo vítimas de ataques, violência política e ameaças.

Em maio do ano passado, precisou sair do país para se proteger devido a ameaças. E na última quarta-feira (9), um dia antes da sessão em que apresentou o projeto alvo de racismo religioso, denunciou ser novamente alvo de ameaças de morte em uma publicação nas redes sociais. Contabilizando assim a sexta vez em que ela se torna vítima deste tipo de crime, somente neste ano. Um dossiê que reúne mais de 20 em menos de um ano, foi enviado para a Polícia Civil do Rio, que está investigando.

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