Por Pedro Caribé / Imagem: Morgana Damásio
Os relatos são de uma guerra branca quando sites jornalísticos baianos noticiam sem pudor as ações policiais que resultaram em assassinatos em bairros populares. Todos morrem em confronto, por “reagirem” à prisão, e são responsabilizados por uma lista de crimes. Não tem outro lado, não tem apuração de nada, no máximo a resposta nos carros incendiados na Baixinha do Santo Antônio, onde cinco tombaram.
No Nordeste de Amaralina, fica mais evidente a suspeita que a onda de assassinatos está orquestrada com o combate ao Covid-19, após um discurso duro do prefeito de que o paredões estavam gerando problema aos comerciantes de um bairro sob semanas de lockdown. É a mesma iconografia dos relatos das perseguições aos batuques no Matatu Grande no século XIX.
Editores e repórteres precisam entender que ao colocar seus nomes e DRT´s estão sendo co-responsáveis de cancelamentos – né a palavra da moda?
Pois bem, cada nome que sai ali, preso, morto ou procurado tem a sua vida registrada na internet para sempre. As suas chances de emprego ou de conseguir um novo amor vão precisar superar uma simples pesquisa no Google. Nas mães das vítimas, esse é o registro que os seus filhos deixam no mundo para a história. Os nomes das comunidades também – ou alguém chega na entrevista de emprego sorrindo: “sou da Vila Moisés”?
Desde a década de 1990, quando prefeitura e governo do estado eram controladas por ACM, o velho, não vejo veículos de imprensa e assessorias de imprensa tão uníssonas na cidade. Espero que os repórteres, alguns que viram estrelas de redes sociais, enfrentam essa situação, e tenham até mais coragem que os antigos tiveram nas redações, porque as condições de trabalho hoje são bem piores.
Não se iludam, a montanha não para de parir ratos. Isso aqui não é, e nunca foi um paraíso, como tentam vender agora no combate ao Covid-19. Fiquem mais atentos à forma como o número de mortos e infectados é (mal) divulgada no estado, especialmente na capital.
A resposta policial para problemas humanitários caminha para subjugar a ordem política e a imprensa ao terror liderado por Bolsonaro em Brasília. Mas a Bahia sempre deu régua e compasso quando o assunto é matar gente preta.