Casos de Monark e Adrilles expõe cenário de avanço do neonazismo no Brasil

Depois de uma pesquisa revelar em janeiro deste mês o aumento de células de grupos neonazistas e sua expansão para as cinco regiões do país nos últimos três anos, dois casos de apologia ao nazismo chamaram atenção essa semana.

Não é a primeira que gestos e discursos que fazem referência ao nazismo são reproduzidos, e vindos de apoiadores do governo

Por Andressa Franco

Depois de uma pesquisa revelar em janeiro deste mês o aumento de células de grupos neonazistas e sua expansão para as cinco regiões do país nos últimos três anos, dois casos de apologia ao nazismo chamaram atenção essa semana.

Na última segunda-feira (7), durante uma edição do Flow Podcast, o criador e um dos apresentadores do programa, Bruno Aiub, conhecido como Monark, fez uma fala a respeito do nazismo enquanto discutia sobre liberdade de expressão com os convidados, os deputados Kim Kataguiri (DEM-SP) e Tabata Amaral (PSB-SP).

“A esquerda radical tem muito mais espaço do que a direita radical, na minha opinião. As duas tinham que ter espaço. Eu sou mais louco que todos vocês. Eu acho que o nazista tinha que ter o partido nazista, reconhecido pela lei”, disse.

Não é a primeira fala polêmica de Monark, em 2021 o podcaster foi muito criticado depois de questionar no Twitter se “ter opinião racista é crime”.

O caso repercutiu e, na noite da última terça-feira (8), foi debatido em um programa da Jovem Pan, quando um dos seus comentaristas, Adrilles Jorge, ao ter sua participação encerrada, se despediu com um gesto semelhante ao “Sieg Heil”. Adrilles estendeu a palma da mão para o alto, como na saudação nazista usada por Adolf Hitler, que em alemão significa “viva a vitória”.

Ambos foram desligados das respectivas empresas. Monark chegou a gravar um vídeo para pedir desculpas, e disse que estava bêbado, em uma tentativa de justificar. O podcast perdeu patrocínios, e organizações judaicas, como a Confederação Israelita do Brasil, a Federação Israelita Paulista, e também o coordenador do Museu do Holocausto no Brasil, que é descendente de sobrevivente do Holocausto, criticaram o apresentador. Já Adrilles insiste que o gesto não passou de um “tchau deturpado”.

O levantamento que revela o aumento de células e grupos neonazistas no Brasil, aponta que existem pelo menos 530 núcleos extremistas no país, o que pode significar o envolvimento de quase 10 mil pessoas.

Casos Semelhantes

Não é a primeira vez que assistimos a gestos e discursos que fazem referência ao período responsável por matar milhões de judeus através do Holocausto, maior genocídio do século XX, e vindos de apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (PL).

Em junho do ano passado, o Ministério Público Federal (MPF) denunciou à Justiça Filipe Martins, assessor especial para Assuntos Internacionais da Presidência da República, em decorrência de gestos racistas feitos em audiência no Senado Federal em 24 de março. O símbolo feito com a mão pelo assessor, que alegou que estava apenas ajeitando o microfone de lapela no terno, é a junção dos dedos polegar e indicador em um círculo, formando um P, enquanto os outros três dedos ficam esticados, formando um W.

Também interpretado como “OK”, em países como Estados Unidos, o gesto é associado ao símbolo supreacista branco “White Power”, que significa “Poder Branco” e é classificado como racista pela Liga Anti-difamação dos EUA, uma ONG de direitos civis.

Outro caso que chamou atenção, aconteceu em janeiro de 2020, quando o então secretário especial da Cultura, Roberto Alvim, fez um discurso similar ao do ministro de Adolf Hitler da Propaganda da Alemanha Nazista, Joseph Goebbels, antissemita radical e um dos idealizadores do nazismo.

A fala de Goebbels dizia que a “arte alemã da próxima década será heroica” e “imperativa”. Em seu discurso, assim como Goebbels, Alvim afirmou que a “arte brasileira da próxima década será heroica” e “imperativa”. O então secretário alegou que a semelhança havia sido apenas uma coincidência retórica.

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