A obra de arte foi incendiada, na madrugada de domingo(04) e foi removida para recuperação
Por Daiane Oliveira e Patrícia Rosa
Religiosos da Matriz Africana se reuniram na manhã de quinta-feira (8), em protesto ao incêndio criminoso contra o monumento em homenagem a Mãe Stella de Oxóssi, na Avenida Paralela em Salvador (BA).
Ana Gualberto, uma das ativistas dos grupos mobilizadores e Egbon D’Osun do Ilê Axé Ofá Omi Layo, fala da importância do protesto e do combate ao racismo religioso e da busca pela laicidade do estado.
“Esse ato de incendiar o monumento de Mãe Stella, já uma ação extrema desses grupos que vêm se organizando para se opor aos direitos das religiões de matriz africana e mais que isso, é o processo de desumanização do nosso patrimônio”, disse a religiosa.
A cantora Margareth Menezes, anunciada como Ministra da Cultura do Governo Lula, esteve no ato. ”Precisamos tomar consciência de que o respeito é um direito de todas as religiões. O que foi feito aqui precisa ser tratado como um crime”, afirmou Margareth ao Jornal Correio.
Em 2021, foram registrados 571 casos de intolerância religiosa no Brasil, em 2020 o número foi 243, segundo dados da Ouvidoria Nacional de Direitos Humanos (ONDH), do Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos (MMFDH).
Monumento em homenagem a Mãe Stella é incendiado e teve que ser removido para restauração
A estátua em homenagem à Ialorixá Mãe Stella de Oxóssi foi incendiada, na madrugada do último dia 04 de dezembro. O Ilê Axé Opô Ofonjá foi dirigido por Mãe Stella por mais de 4 décadas, a casa publicou uma nota de repúdio ao crime e declarou que tomarão as devidas providências junto às autoridades competentes:
“Repudiamos com veemência o ato criminoso contra a nossa ancestral que, ao longo da sua história, além de sempre defender o direito à liberdade religiosa para todos, construiu ações e escreveu sobre legado do candomblé, com o objetivo de promover a preservação de seus valores culturais e sociais”, declarou a instituição religiosa.
O vandalismo foi registrado na 12ª delegacia, de Itapuã, a autoria do crime ainda é desconhecida. A escultura foi retirada para recuperação, pela pela Companhia de Desenvolvimento Urbano de Salvador (Desal).
Essa é a segunda vez que a obra sofre depredação, em 2019 ela foi pichada. A escultura é de autoria do artista plástico Tatti Moreno, que morreu em 2020.
Mãe Gilda, sacerdotisa do Ilê Axé Abassá de Ogum, em Salvador, morreu vítima do racismo religioso, após ter seus problemas de saúde agravados em consequência dos ataques de ódio e agressões verbais e físicas que sofreu por parte dos membros da Igreja Evangélica Assembleia de Deus. Depois de vinte anos de sua morte, sua memória e história foi mais uma vez desrespeitada, quando o seu busto que homenageia a Ialorixá, que fica no Parque do Abaeté em Salvador, foi alvo de vandalismo, em julho de 2020. Mãe Jaciara, filha de Mãe Gilda e atual ialorixá do Ilê Axé Abassá de Ogum, fala da indignação em acompanhar mais um caso de racismo religioso:
“Isso não é vandalismo, é racismo religioso, é triste ver a imagem de uma Yalorixá queimando daquele jeito, é terrorismo religioso. Na verdade, nós estamos indignados,eu vivi dois momentos muito parecidos, o busto de mãe Gilda foi violado em 2016 e em 2020, foi também violado”. Mãe Jaciara fala da importância de uma punição efetiva e proteção à liberdade religiosa.
“Se de madrugada eles tocam fogo em um monumento, em praça pública, eles podem pegar um Yalorixá e tocar fogo vivo. Mesmo depois de morta, Mãe Stella é novamente morta, simbolicamente”, finaliza a sacerdotisa.
Uma pesquisa da Rede Nacional de Religiões Afro-Brasileiras e Saúde (Renafro), revela que 78,4% de pais e mães de santo já sofreram violência, devido a intolerância ou por racismo religioso, no Brasil.