Dois anos após feminicídio, UFPI homenageia ex-aluna Janaína Bezerra com cerimônia e entrega simbólica de diploma à família

A jovem foi brutalmente assassinada em janeiro de 2023 por um colega de universidade, dentro de uma sala de aula, durante uma calourada 

Por Patricia Rosa

A Universidade Federal do Piauí (UFPI) realizou uma cerimônia de homenagem e entrega simbólica de diploma à família da ex-aluna Janaína Bezerra. O evento ocorreu no dia 28 de janeiro, data em que se completaram dois anos do feminicídio da jovem. Janaína foi assassinada aos 22 anos dentro de uma sala da universidade, durante uma calourada.

Durante a cerimônia, a reitora Nadir Nogueira pediu desculpas aos familiares, amigos, colegas, pelo fato da universidade não ter garantido a segurança da vítima.

“Pedimos desculpas publicamente à família, amigos e colegas de Janaína por não termos garantido a segurança que ela merecia dentro da universidade. Que isso nos sirva de lição para nunca aceitarmos qualquer tipo de violência contra a mulher. Essa luta deve ser diária e de todos nós”, afirmou a reitora, por meio de nota publicada pela UFPI. 

Já o pró-reitor de assuntos estudantis e comunitários, Emídio Matos, declarou que a instituição está desenvolvendo mecanismos para implementar a política institucional de enfrentamento das violências de gênero, étnico-racial, moral e sexual na universidade. 

“Essa política exige compromisso diário. Não podemos tolerar como normais atitudes que desrespeitam ou ferem o outro, como brincadeiras inadequadas ou toques não consentidos. Vivemos em uma sociedade patriarcal e racista, e é preciso reconhecê-la para transformá-la, começando por nossas ações internas”, declarou Emídio.

Durante a cerimônia, a mãe de Janaína, Dona Socorro Nunes, falou da saudade da filha e agradeceu o carinho expressado a Janaína, “espero que as coisas melhorem daqui para frente”, declarou.

Janaína Bezerra era estudante de Jornalismo da UFPI e foi vítima de violência sexual. Ela teve o pescoço quebrado e seu corpo foi vítima de vilipêndio de cadáver – o criminoso a estuprou após sua morte – dentro de uma sala de aula da instituição, na madrugada do dia 27 para o dia 28 de janeiro de 2023. O responsável pelos crimes é Thiago Mayson da Silva Barbosa, que era mestrando do curso de Matemática da universidade. Ele foi condenado a 18 anos e 6 meses de prisão em regime fechado pelos crimes de homicídio, vilipêndio de cadáver, fraude processual (por alterar provas do crime) e estupro de vulnerável.

Para além das desculpas

Halda Regina,integrante do Instituto Ayabás e da Rede de Mulheres Negras do Nordeste, destaca que o pedido de desculpas não deve ser feito apenas para a família de Janaína, como também para todas as meninas que sofrem assédio na universidade e que temem que algo possa acontecer na universidade. 

“Não é um ambiente seguro, muitas mulheres sempre reclamaram que a universidade é um espaço inseguro, precisamente para as mulheres”, relata.

Como viveu a família de Janaína durante esses dois anos? Questiona Helda diante do pedido de desculpas e entrega do diploma simbólico. 

“Como é que a família dela sobrevive hoje, financeiramente? Vai sobreviver com o pedido de perdão? Então, esse pedido simbólico, ele teria que ser carregado de outras alternativas, soluções, tanto para universidade melhorar a segurança, mudar essas posturas de assédio contra as mulheres dentro da universidade, como indenizar a família da Janaína”, cobra a ativista.

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