Por Patricia Rosa
Menos de 24 horas após ser preso em flagrante por injúria racial, o jogador boliviano Miguelito, do América-MG, foi solto nesta segunda-feira (5) após audiência de custódia. Ele foi acusado de se referir de forma racista ao meia Allano, do Operário-PR, durante uma partida válida pelo Campeonato Brasileiro da Série B, na noite de domingo (4), em Ponta Grossa (PR).
A situação ocorreu no primeiro tempo da partida, após uma falta a favor do Operário. A cena do crime não foi registrada pelas câmeras de transmissão. Allano e outros jogadores do Operário acusam Miguelito de ter se referido ao meia com a expressão “preto do…”. O Operário se pronunciou por meio de nota, repudiando o ato e informando que está em busca de imagens que possam comprovar os fatos.
“Reforçamos que o Operário está prestando todo o suporte necessário ao atleta Allano e seguiremos firmes em nosso compromisso de luta contra o racismo, dentro e fora de campo. Não vamos tolerar nenhuma forma de discriminação”, declarou o clube.
Miguelito negou o crime, e vai responder ao processo em liberdade. Conforme a decisão, após analisar o caso, o Ministério Público se manifestou a favor de conceder liberdade provisória ao suspeito.
Allano se pronunciou nas redes sociais, nesta segunda-feira (05), afirmando que não vai se calar diante do episódio racista. Ele também agradeceu ao seu time, aos companheiros e familiares pelo apoio. “Infelizmente, mais uma vez, o racismo mostrou sua face cruel dentro de um espaço que deveria ser de celebração. Não vou me calar, não por mim apenas, mas por todos os que já passaram por isso e por aqueles que ainda lutam para que esse tipo de violência acabe de vez”, afirmou o atleta.
O América também se manifestou nas redes sociais, afirmando que confia na palavra de seu atleta e está oferecendo todo o suporte para auxiliá-lo no caso.
A Confederação Brasileira de Futebol (CBF) se manifestou por nota, reafirmando seu compromisso na luta contra o racismo no futebol e relatou que já encaminhou a súmula da partida ao Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD).
De acordo com dados do Observatório da Discriminação Racial no Futebol, em 2023 foram registrados 136 casos de racismo nos campos brasileiros. Em entrevista à Revista Afirmativa, o diretor-executivo do Observatório, Marcelo Carvalho, fala que os números mostram que no Brasil o racismo é costumeiro.“Temos diversas leis para punir o racismo, mas não são suficientes. Mesmo com a equiparação de injúria racial ao racismo, dificilmente essas pessoas serão presas. A impunidade faz com que se sintam à vontade”, afirmou o diretor.