Jovem, urbana e ainda pouco assistida: IBGE divulga censo da população quilombola na Bahia

Em um levantamento inédito, o Censo 2022 investigou a população quilombola e suas características demográficas, geográficas e socioeconômicas
Imagem: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Por Matheus Souza

O Censo 2022 do IBGE foi o primeiro a traçar um panorama detalhado da população quilombola no país e revelou que a idade mediana deste segmento da população é de 31 anos, média abaixo da população total do Brasil,  35 anos. Na Bahia, essa média geral de idade é de 32 anos, sendo 31 para quilombolas de zonas rurais, e 33 para quilombolas de zonas urbanas.

A Bahia é o estado do país com maior número de quilombolas: são 397.059 pessoas, o que representa quase 30% de todas as pessoas quilombolas no Brasil. Apesar da pequena margem de diferença, a maioria dos quilombolas baianos vivem em território rural (52%), enquanto os outros 48% moram em áreas urbanas. Já em contexto nacional, a Bahia possui a maior população quilombola em zona urbana.

Crissiéle Roza, de 25 anos, é integrante do Quilombo de Conceição de Salinas, em Salinas da Margarida (BA). Nascida e criada na comunidade pesqueira, Crissiéle destaca os desafios de morar em uma comunidade quilombola localizada na zona urbana.  “Sim, na minha comunidade temos muitos jovens. Dificilmente alguns se interessam pelas nossas tradições. Só no carnaval que muitos ainda se vestem de careta e participam do bordejo, a nossa tradicional corrida de canoa que acontece no dia 1º de Janeiro.”

O Quilombo de Conceição de Salinas é uma comunidade pesqueira próxima a Ilha de Itaparica (BA).
Imagem: Crissiéle Roza/ Arquivo Pessoal

Apesar disso, “Cris”, como prefere ser chamada, faz questão de enfatizar que sente muito orgulho em ser quilombola e faz o possível para manter os costumes e cultura do seu povo. “Me sinto feliz em fazer parte dessa comunidade, aqui eu aprendi e aprendo muito com meus ancestrais. A nossa cultura, costumes e práticas são diferentes e encantadoras”, enfatiza.

Ainda segundo Crissiéle, no Quilombo de Conceição de Salinas saneamento não é um problema, uma realidade que contrasta com outros quilombos baianos. Falta de acesso a abastecimento de água, coleta de esgoto e destinação do lixo são problemas recorrentes na maioria deles. No estado, quase metade dos domicílios quilombolas urbanos (47,5%), e 9 em cada 10 dos rurais, não têm acesso adequado a saneamento básico. 

Já no quesito educação, cerca de 13,7% de pessoas quilombolas em zonas urbanas são analfabetas, em comparação aos 9,0% da população em geral. Na zona rural esse número sobe para 18,3%.

Para Marta Antunes, coordenadora do Censo de Povos e Comunidades Tradicionais, a divulgação dessas informações inaugura uma linha de dados e informações inéditas sobre a população quilombola, capaz de abrir uma série de possibilidades no campo da Demografia, da Antropologia e da Geografia no país. “É uma publicação importantíssima para políticas públicas de direitos humanos básicos, pois permite conhecer uma realidade que, até agora, era totalmente desconhecida sobre a população quilombola”, destacou.

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