Por Matheus Souza
Um estudo realizado pela Universidade Rush, em Chicago, nos Estados Unidos, publicado na revista Neurology em maio deste ano, revela que morar em bairros mais vulneráveis socialmente aumenta o risco de demência. Na pesquisa, a maioria dos participantes negros moradores de zonas com maior vulnerabilidade, como periferias e favelas, apresentavam mais do que o dobro do risco de desenvolver Alzheimer do que a maioria dos participantes brancos na mesma região.
A pesquisa ouviu 6.781 participantes com uma média de idade de 72 anos, sendo mais de 60% negros e do sexo feminino. Os dados também apontam que a deterioração das funções cognitivas ocorre de forma mais acelerada nesses locais mais pobres. A pesquisa alerta para um fato preocupante: a demência e suas manifestações clínicas não atingem brancos e negros da mema forma.
No Brasil, um trabalho, publicado em julho na revista JAMA Open Network, liderado pela geriatra Claudia Suemoto, da Universidade de São Paulo (USP), aponta que, em ambos os grupos étnicos, o Alzheimer é a enfermidade que com mais frequência causa declínio cognitivo com o avanço da idade. No entanto, a condição afeta uma proporção maior de brancos do que de negros. Porém a demência vascular, o segundo tipo mais comum de demência, atinge uma porcentagem maior de negros do que de brancos.
Outro estudo, do Ethnoracial disparity among patients with dementia during COVID-19 pandemic, liderado por Natan Feter, da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), com co-autoria da doutoranda pelo Programa de Pós-Graduação de Ciências da Saúde: Cardiologia e Ciências Cardiovasculares da UFRGS Jayne Santos Leite, aborda a disparidade étnico-racial nas internações e taxas de mortalidade por demência , que aumentaram desde o início da epidemia de Covid-19 no Brasil, em 2019.
Na região Sul, por exemplo, a taxa de mortalidade por demência entre os brancos reduziu 19%, já entre os pretos aumentou 90% e entre os pardos subiu 176%. “Existe uma disparidade étnico-racial, pois, hoje, se uma pessoa de cor de pele preta, outra parda e outra branca com demência entrarem no hospital público, a chance de o preto e o pardo morrerem no hospital é de 70 e 60%, respectivamente”, diz o pesquisador ao Jornal da UFRGS.
Até mesmo os sintomas que antecedem o diagnóstico de demência podem variar de acordo com a etnia de uma pessoa. Um estudo liderado pela Queen Mary University, de Londres, também investigou se pessoas de grupos étnicos minoritários eram mais propensas a relatar sintomas não cognitivos ao clínico geral. Foram encontradas evidências de que vários sintomas eram mais comumente relatados antes de um diagnóstico de demência em pessoas negras e sul-asiáticas do que em pessoas brancas.
Em particular, pacientes sul-asiáticos e negros tinham mais comumente registros de constipação, incontinência, desequilíbrio, tontura, dor musculoesquelética e insônia antes de seu diagnóstico de demência.