Registros de câmera corporal de PM envolvido no assassinato de Thainara Vitória comprovam abordagem truculenta

Inquérito policial aponta indícios de homicídio culposo omissão de socorro e fraude processual no caso que aconteceu em Governador Valadares (MG) quando a jovem tentou defender o irmão autista de agressões da polícia
Imagem: Arquivo Pessoal

Da Redação

As imagens captadas pela câmera corporal de um dos policiais militares envolvidos na morte de Thainara Vitória Francisco Santos, de 18 anos, revelam uma abordagem truculenta no apartamento onde ela morava, na Vila dos Montes, em Governador Valadares (MG). Na gravação divulgada pelo programa Brasil Urgente da Bandeirantes, é possível ver que os policiais revistaram a casa e, ao encontrarem uma bolsa com uma quantia em dinheiro, pediram que Thainara contasse o valor. Em seguida, deram início a uma sequência de agressões contra a sua família.

As imagens mostram o momento em que o irmão de Thainara, adolescente com diagnóstico de autismo e Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH), fica nervoso com a abordagem e é contido com violência. A mãe da jovem também aparece sendo empurrada e agredida dentro do apartamento. Testemunhas afirmam que a vítima tentou intervir quando viu o irmão sendo violentado e, na sequência, também foi imobilizada e agredida pelos policiais. O vídeo mostra ainda a movimentação dos PMs dentro do imóvel até o momento em que Thainara é levada para a viatura.

Relembre o caso

No último 15 de novembro, a PM estaria em busca de um suspeito de homicídio ocorrido no mesmo dia, no bairro Conquista. Na abordagem, os agentes levaram o irmão de Thainara para fora do apartamento, “confundindo-o” com o suspeito. Segundo relato de Jucélia dos Santos da Cruz, mãe da jovem, o garoto ficou agitado e, em meio ao desespero, reagiu. A resposta dos policiais foi uma série de agressões físicas.

Testemunhas gravaram vídeos que mostram vizinhos gritando para que a violência cessasse, informando que o adolescente era autista e não estava envolvido no crime. Thainara tentou intervir e também foi violentamente agredida, com socos e chutes. Tanto ela quanto o irmão foram detidos sob acusação de resistência e lesão corporal. Segundo a PM, no caminho até a viatura, a jovem, que estava grávida de quatro meses, começou a passar mal, foi levada à Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do bairro Vila Isa e chegou ao local sem vida.

O laudo do Instituto Médico Legal (IML) confirmou que Thainara morreu por asfixia causada por constrição externa no pescoço, resultado de estrangulamento. Hematomas foram identificados no rosto, couro cabeludo, braços, pernas e pés. A perícia concluiu que as lesões não são compatíveis com defesa, descartando a versão de que ela teria passado mal espontaneamente dentro da viatura.

Debate na ALMG e o aumento da letalidade policial no estado

A Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) convocou autoridades, familiares e representantes da Polícia Civil e Militar para discutir o caso de Thainara em audiência pública na última sexta-feira (30). A presidenta da comissão, deputada Bella Gonçalves (Psol), questionou a ausência de um mandado judicial na abordagem e criticou a conduta dos policiais.

O advogado-geral do Estado, Sérgio Pessoa, o corregedor-geral da Polícia Militar e o advogado da família estiveram presentes. A Polícia Civil informou que o inquérito foi finalizado e enviado ao Ministério Público, que está analisando o documento.

O inquérito policial aponta indícios de homicídio culposo, omissão de socorro e fraude processual, devido à falha na preservação da cena do crime.

Em 2024, a letalidade policial subiu 47% em Minas Gerais, conforme aponta um relatório publicado em março pelo Ministério Público em parceria com a PUC Minas. No entanto, a despeito desse dado, a Justiça negou, em decisão de 24 de abril, um pedido de urgência para obrigar o governo do estado a adotar imediatamente câmeras corporais nas ações da Polícia Militar. O juiz Ricardo Sávio de Oliveira alegou falta de estrutura, como quantidade suficiente de câmeras, capacidade de armazenamento e protocolos de privacidade.

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