Por Patrícia Rosa
Salvador e São Paulo são as capitais brasileiras mais perigosas para a comunidade LGBTQIA+. A capital baiana registrou o maior percentual de mortes de pessoas da comunidade do Brasil em 2024, correspondendo a 15,73% dos registros, um total de 14 casos. Os dados são do Observatório do Grupo Gay da Bahia (GGB), que apontam São Paulo como a segunda mais violenta com 14,61% dos casos, correspondendo a 13 casos.
O Brasil registrou uma morte violenta de pessoas da comunidade LGBTQIA+ a cada 30 horas no ano passado, totalizando 291 mortes, um aumento de 34 casos em relação ao ano anterior. Dentre essas mortes, 82,13% foram causadas por assassinatos, 6,19% por suicídios e 10,31% por latrocínios, caracterizados como roubo seguido de morte.
Sudeste e Nordeste lideram o ranking
Com relação à distribuição das mortes por regiões, o sudeste e o nordeste empatam, ambos com 34,02% dos casos. Em conjunto, as duas regiões contabilizam 198 mortes, mais que o dobro da soma de assassinatos das outras regiões, onde foram registrados 93 casos do total.
Dos estados apontados com os maiores índices de violência, a Bahia ficou em segundo lugar no ranking, contabilizando 31 mortes. Um crescimento de aproximadamente 41%, já que em 2023 ocorreram 22 óbitos. O estado de São Paulo registrou 53 vítimas em 2024.
A pesquisa foi construída com base em dados obtidos na imprensa, em sites de pesquisas, e em correspondências enviadas ao Grupo Gay da Bahia. No entanto, as estatísticas podem ser ainda mais elevadas devido às subnotificações, que podem ser provocadas por fatores como a ausência de registros específicos.
“É importante destacar que, lastimavelmente, apesar de nossas cobranças anuais, os governos continuam omissos: não existem estatísticas oficiais específicas sobre crimes de ódio contra a população LGBT+ no Brasil. Essas 291 mortes violentas são apenas a ponta de um iceberg”, afirmou a organização.
Jovens entre 26 e 35 anos foram os mais vitimados
Em outubro do ano passado, Luane Costa da Silva, de 27 anos, foi vítima de transfeminicídio, em um motel de Santos (SP). O suspeito do crime é o pastor evangélico Antônio Lima dos Santos Lima, de 45 anos.
Outra vítima foi Santrosa, uma cantora e suplente a vereadora trans, de 27 anos. A jovem foi encontrada decapitada, com mãos e pés amarrados em 9 de novembro.
Ambas as vítimas estão incluídas na faixa etária com o maior número de casos registrados em 2024: jovens entre 26 e 35 anos, que representam 22,68% das mortes. Os dados também revelam que 14,78% das mortes ocorreram entre jovens de 19 a 25 anos, enquanto 17,87% das vítimas tinham entre 36 e 45 anos.
Locais públicos e as próprias residências são os locais com maiores números de registros
O estudo destaca números que revelam que as comunidades LGBTQIA+ não estão estão seguros nem nas suas próprias residências, que foi o local onde aconteceu o maior número de crimes, totalizando 32,30% das mortes. Cerca de 20% dos casos ocorrem em espaços públicos, o segundo local mais arriscado para as comunidades.
O relatório inclui o relato de Luiz Mott, fundador do GGB, que cobra avanços do poder público na proteção e respeito à vida da população LGBT+:
“Os dados evidenciam a omissão do poder público e a persistência de uma cultura de ódio que torna o Brasil um dos países mais perigosos para pessoas LGBT+. Não podemos normalizar essas perdas. Exigimos ações efetivas e urgentes para garantir a segurança e a dignidade de nossas vidas, com medidas que envolvam educação, justiça e políticas públicas”, declara Mott.