Coletivo de Salvador realiza campanha de arrecadação de materiais escolares para projeto de alfabetização de trabalhadoras domésticas

Fundado em Salvador (BA) em dezembro de 2016, o Coletivo de Mulheres Creuza de Oliveira tem como objetivo prioritário fortalecer as lideranças comunitárias dos bairros Mata Escura, Jardim Santo Inácio e Calabetão.

Iniciativa do Coletivo de Mulheres Creuza de Oliveira é 100% voluntária e está na segunda turma

Por Andressa Franco

Imagem: Divulgação

Fundado em Salvador (BA) em dezembro de 2016, o Coletivo de Mulheres Creuza de Oliveira tem como objetivo prioritário fortalecer as lideranças comunitárias dos bairros Mata Escura, Jardim Santo Inácio e Calabetão. Através de ações políticas promovidas pelo próprio coletivo, buscam consolidar uma rede de mulheres nas periferias e fortalecer institucionalmente o coletivo como instrumento de luta para as mulheres negras dessas comunidades.

No mesmo ano de sua fundação, o grupo participou de uma audiência pública. Foi nesse evento que Milca Martins, Secretária Geral do Sindoméstico Bahia, diretora da Federação Nacional das Trabalhadoras Domésticas e uma das lideranças do coletivo, percebeu que cinco das integrantes não assinou a lista de presença, porque não sabiam assinar o próprio nome.

“Eu me preocupei muito com essa situação, e pensei em fazer uma proposta para gente pelo menos ensinar elas a fazer o nome e sobrenome, que é muito importante. As cinco aceitaram e em seis meses aprenderam”, relata Milca. Em 2017, as mulheres foram encaminhadas para a escola municipal da região, onde deram continuidade aos estudos. Assim, se formou a primeira turma do reforço escolar promovido pelo coletivo.

Retomada pós-pandemia

Com a pandemia de covid-19, foi necessário fazer uma pausa, mas a retomada já está acontecendo. A segunda turma está formada e conta com 10 mulheres também sem saber ler e escrever. A maior parte são trabalhadoras domésticas, mulheres negras, chefes de família, que não tiveram oportunidade de estudar na infância, nem depois disso, devido a necessidade de trabalhar para se manter.

Uma dessas mulheres é Marta de Queiroz, diarista de 42 anos, que aprendeu a ler e escrever através do reforço escolar promovido pelo coletivo.

“Pra mim foi muito importante participar da alfabetização do coletivo porque eu já tinha muito tempo sem ir à escola. Casei cedo, tive filho e não tive oportunidade de estudar”, relata. “Estou aprendendo a cada dia mais e gostando, é até uma terapia. Eu tenho depressão. E estar no meio de pessoas boas é sempre bom, eu melhorei bastante”.

A iniciativa hoje também tem formada uma turma de 13 crianças do bairro que, apesar de estarem passando para novas séries escolares, ainda não sabem ler ou escrever. “Tinha criança que já estava cursando a quinta série, mas não sabia fazer nem o nome completo”, destaca Milca, que concluiu recentemente o primeiro ano do ensino médio. “A gente sabe que nas escolas públicas temos professores capacitados, mas o sistema não deixa avançar”.

Campanha de arrecadação

Com a retomada do projeto esse ano, o coletivo tem realizado uma campanha de arrecadação para manter as turmas. O trabalho é 100% voluntário e conta com duas professoras para as trabalhadoras domésticas e também para as crianças.

Entre os materiais que podem ser doados estão lápis, caneta, borracha, apontador, papel ofício, cadernos e lápis de cor. Para doar basta entrar em contato através do número (71) 98896-6232. Doações também podem ser realizadas através de Pix, a chave é o mesmo contato de telefone.

“A gente vai continuar fazendo o trabalho. Então é muito importante que as pessoas nos ajudem porque é voluntário, e a gente não tem condições de manter sem pedir ajuda. A educação nos transforma, transforma o mundo”, finaliza Milca.

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