“Me sinto perseguido, censurado e agredido”, afirma Renato Freitas (PT), que sofre o terceiro processo de cassação

O parlamentar fala acredita que o motivador de mais um processo de cassação é o racismo e que  se sente impossibilitado de exercer a sua função

Por Patrícia Rosa

Imagem: Eduardo Matysiak

Renato Freitas, de 39 anos, é alvo de um processo disciplinar na Assembleia Legislativa do Paraná. É a  terceira vez que o parlamentar enfrenta um  processo de cassação de sua vida política. Em entrevista a Afirmativa em março deste ano ele detalhou os motivos da perseguição política que vem sofrendo. 

O processo  foi entregue à Corregedoria, pela Assembléia Legislativa do Paraná  em abril deste ano. A alegação foi que  houve um desagravo, ele teria violado a “boa conduta” durante uma sessão, entre os parlamentares Renato Freitas (PT) e Ricardo Arruda (PL), quando Renato teria chamado de  “rato”, o governador do Paraná, Ratinho Júnior (PSD), durante um pronunciamento. A Casa alega que houve uma quebra de decoro do deputado. “Neste caso específico, dentro da análise e transcrição de cada discurso ficou evidente os termos, acusações, imputações e adjetivos inadequados à postura e que podem, sem nenhuma dúvida, caracterizar quebra de decoro parlamentar”, alegou Artagão Júnior (PSD), Corregedor da Assembleia Legislativa do Paraná.

Renato acredita que o motivador de mais um processo de cassação é o racismo. “Eu me sinto perseguido, censurado e agredido. Não me deixam direcionar as energias,  a luta, a mobilização que nós trabalhamos, apenas para os nossos projetos e ações, junto à comunidade e ao nosso povo.”, declara o parlamentar.

Renato Freitas é um dos dois únicos negros dos 54 deputados estaduais paranaense. Ele aponta que falta de apoio dos colegas da oposição. “Na bancada de oposição eu sou o único negro e os outros embora de esquerda são brancos, e  não acreditam que seja importante a ponto deles terem se manifestar na tribuna, nas redes sociais ou de qualquer outra forma um apoio a mim.”

Em 2022, quando era vereador em Curitiba, ele foi cassado por ter entrado na Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos e São Benedito durante um protesto contra as mortes do congolês Moïse Kabagambe. O então vereador conseguiu retomar seu mandato, após entrar com recursos na Justiça e obter decisão favorável do Supremo Tribunal Federal (STF).

“Um ponto em comum desses três processos é que estava falando da valorização da vida e contra a política extremamente racista do estado brasileiro”, disse Renato Freitas ao Jornal O Globo.

Racismo em Aeroporto

Além do ambiente político institucional, o racismo não dá trégua a Renato em outros locais. Na última segunda-feira (17) ele foi vítima mais uma vez de uma revista no aeroporto de Brasília (DF). O deputado postou um vídeo no twitter mostrando  a abordagem dos funcionários do aeroporto, nas imagens é possível  ver uma agente tentando impedir a filmagem. Renato retornava da marcha pelo reconhecimento do Hip Hop como patrimônio cultural e imaterial pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).

A gravação foi postada pelo parlamentar em uma das suas redes sociais,  com a seguinte legenda: “Bom dia pra você que é sempre sorteado, mas nunca tem sorte”, declarou o deputado. 

Ao jornal O Globo ele questionou os critérios para a abordagem e afirmou que há uma justificativa genérica de revista aleatória, mas não há um dado objetivo de transparência de quais os critérios. “Ela agiu como se tivesse lidando com um suspeito, não há dúvidas de que há critério racial. Fui alvo de discriminação e não posso nem questionar” afirmou.

Em maio deste ano, Renato foi retirado de um voo e revistado pela Polícia Federal antes de embarcar para Foz do Iguaçu (PR). 

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