A fragilidade da branquitude

A fragilidade da branquitude é uma terminologia cravada pela cientista social norte-americana branca Robin DiAngelo que desdobra os seus estudos sobre questões raciais a partir da perspectiva antirracista. A autora explica que “fragilidade branca é um estado em que mesmo uma quantidade mínima e estresse racial se torna intolerável, desencadeando uma série de movimentos defensivos por parte do sujeito branco.

Por Monique Rodrigues do Prado / Imagem: Linoca Souza

A fragilidade da branquitude é uma terminologia cravada pela cientista social norte-americana branca Robin DiAngelo que desdobra os seus estudos sobre questões raciais a partir da perspectiva antirracista.

A autora explica que “fragilidade branca é um estado em que mesmo uma quantidade mínima de estresse racial se torna intolerável, desencadeando uma série de movimentos defensivos por parte do sujeito branco. Esses movimentos incluem a exibição externa de emoções como raiva, medo e culpa e comportamentos como argumentação, silêncio e deixar a situação indutora de estresse. Esses comportamentos, por sua vez, funcionam para restabelecer o equilíbrio racial dos brancos”.

Em entrevista ao The Guardian, a acadêmica desabafa que “o problema com os brancos é que eles simplesmente não ouvem. Na minha experiência, dia após dia, a maioria das pessoas brancas não é receptiva a descobrir o impacto de suas ações sobre as outras pessoas. Há uma recusa em saber ou ver, ou ouvir ou ouvir, ou validar ”.

O assunto é tido como espinhoso porque enfrenta nuances primordiais para aclarar os efeitos do racismo: privilégios e status sociais desse grupo constituído como hegemônico. A autora chama atenção à “almofada protetora dos recursos e benefícios” na dinâmica das relações raciais tais como posta.

Ela explica que, ao serem confrontados, os brancos ficam na defensiva porque não querem ir a fundo às discussões que envolvem a desigualdade social e as injustiças produzidas pelo racismo frente as suas responsabilidades. E provoca “O que as pessoas brancas têm medo de perder ao ouvir? ”

Nesse sentido, como raramente a branquitude é desafiada a pensar a sua cor no tecido social, quando colocada em cheque enquanto player racial, os comportamentos de reação são a incapacidade de tolerância sobre o assunto, bem como o estresse racial.

Para DiAngelo, pelo fato da branquitude ser considerada a norma da humanidade a cultura se torna algo discutido apenas em referência a pessoas de cor. Assim, para que isso seja interrompido, os brancos precisam lidar com o que significa ser um membro desse grupo social.

Com efeito, para a autora, “essa linguagem codificada racialmente reproduz imagens e perspectivas racistas, ao mesmo tempo em que reproduz a confortável ilusão de que raça e seus problemas são o que ‘eles’ têm, não nós.”

No mesmo sentido, DiAngelo elucida que esses privilégios são solidificados na história, na tradição e na normatividade havendo a formatação da consciência individual e coletiva do branco como ser elevado, sendo a fragilidade da branquitude conceituada como um produto do habito, ou seja, uma resposta ou “condição” produzida e reproduzida pelas vantagens sociais e materiais contínuas da posição estrutural branca.

Dentre outros fatores, a estudiosa insiste que reconhecer que os acessos são desiguais em relação aos grupos raciais; observar os espaços e como se dá a segregação social; pensar criticamente sobre a complexidade do racismo através do contato com outras narrativas são passos importantes para enfrentar esse véu da fragilidade branca.

Em suas palavras: “o racismo é um problema branco. Foi construído e criado por pessoas brancas e a responsabilidade final deve recair sobre as pessoas brancas. Por muito tempo, olhamos para ele como se fosse um problema de outra pessoa, como se tivesse sido criado no vácuo. Eu quero me levantar contra essa narrativa”.

Portanto, já que são as pessoas brancas que detém o poder institucional à luz da engrenagem econômica, política, jurídica e social, é fundamental compreender a raça não só de quem é afetado pelo racismo, mas quem o produz, visto que apoia o racismo da forma coletiva quem não trabalha para acabar com ele.

 

 

REFERÊNCIAS

DIANGELO, Robin. White Fragility. International Journal of Critical Pedagogy, Vol 3 (3) (2011) pp 54-70. Disponível em: https://libjournal.uncg.edu/ijcp/article/viewFile/249/116. Acesso em: 28 maio 2020.

IQBAL, Nosheen. Academic Robin DiAngelo: ‘We have to stop thinking about racism as someone who says the N-word’ Disponível em: ttps://www.theguardian.com/world/2019/feb/16/white-fragility-racism-interview-robin-diangelo. Acesso em: 13 jul. 2020.

 

 

 

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