Por Jesz Ipólito
O cenário político e social do Brasil segue desolador em relação aos ataques aos direitos humanos. No que tange o respeito e segurança das mulheres negras, o quadro é ainda mais sombrio em relação às violências. Por isso, seguimos na missão de ecoar as vozes de mulheres negras no enfrentamento à violência sexual. Você se lembra da primeira série que produzimos sobre o assunto? Na época, denunciávamos as violências sexuais contra mulheres negras e a cultura do estupro. Então, agora vem a edição II, produzida por um time de jornalistas negras de diferentes estados do Nordeste para investigar aspectos mais profundos de casos de violência sexual emblemáticos.
O Brasil viu um aumento chocante nos casos de estupro no último ano, com 74.930 registros em 2022, um número que pode ser maior, haja vista o processo de subnotificação, onde a certeza da injustiça, o desamparo e a falta de acolhimento são elementos constituintes de caminhos que distanciam vítimas de efetivar denúncias. A média mensal equivale a 205 casos por dia. E, veja bem, esses números são apenas fruto das mulheres que tiveram coragem de relatar seus abusos.
As vítimas, em sua maioria, são mulheres, e as mulheres negras continuam sendo as mais violadas. Em 2022, 56,8% das vítimas eram negras, um aumento significativo em relação ao ano anterior. Esse aumento exponencial da violência sexual contra mulheres negras é evidenciado há décadas, não somente por nós, da mídia negra, como por diferentes organizações de mulheres negras presentes e atuantes na sociedade brasileira. É um grito coletivo e permanente de denúncia e busca por justiça.
Em nossa primeira série sobre o assunto, denunciamos a cultura do estupro. Agora, estamos levando esse debate a um novo patamar. Com “Malfeitores da fé: violência sexual praticada por religiosos contra menores evidencia avanço da cultura do estupro em Pernambuco“, queremos abrir os olhos para os abusos ocorridos dentro dos diferentes espaços religiosos.
“Abusadores invisíveis nos lares: A epidemia da violência sexual contra crianças e adolescentes por pais e padrastos” é um alerta para o que ocorre no ambiente doméstico, dentro dos lares. É hora de enfrentar esse tabu de frente e proteger as crianças.
No artigo “Quem enxerga nossas meninas? Casos de violência sexual que vieram à tona em várias universidades do país“, nos faz questionar quem está realmente olhando para as jovens negras nas universidades após 20 anos das cotas raciais. A violência sexual também atinge o ensino superior, e não é possível ignorar isso.
Na última reportagem da série, O papel do SUS como ferramenta de acolhimento para as mulheres vítimas de abuso sexual é debatido. Aqui, destacamos como o SUS desempenha um papel fundamental na jornada de recuperação das vítimas.
Nossas produções jornalísticas buscam abordar essas questões complexas, com uma mistura de força, resiliência e esperança. Queremos criar um espaço seguro para que essas e outras histórias sejam ouvidas por toda sociedade. Com o apoio do Fundo VidaAfrolatina desde o projeto-piloto em 2021, estamos fortalecendo nosso trabalho, aprofundando nossas investigações e ampliando nosso alcance.
Esperamos que cada palavra escrita e lida nessas reportagens contribua para a cura das mulheres negras que tiveram força de compartilhar suas experiências, que cada frase e parágrafo seja combustível para que outras mulheres negras possam denunciar também. Juntas, continuaremos nossa luta por um mundo onde todas as mulheres negras possam viver sem o medo da violência sexual.
Confira cada uma dessas histórias abaixo em nosso site e nas redes sociais e junte-se a nós nessa jornada de denúncia, conscientização e transformação.