Negro Amor: Bento e Luiza e a sina por amor e liberdade

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Há muito tempo que eu queria ter
Um grande amor como você
Que demorou, mas chegou
E minha vida se transformou

 

Edson Gomes

 

Bento e Luiza eram escravizados fugidos, respectivamente de Manoel Domingos e Bernardino da Silva Carneiro, e viviam possivelmente escondidos, nas matas da fazenda “Cabeça de Negô”, na freguesia de Santo Estevão do Jacuípe. A ânsia por liberdade e os laços afetivos entre eles foram fundamentais para o casal traçar novos rumos às suas vidas. O primeiro passo foi fugir dos seus senhores e morar juntos, cultivando suas roças e acumulando pecúlio para, posteriormente, comprar suas alforrias e gozar da vida de casados e da  liberdade. Eram vários os sonhos e desejos que esse jovem casal de cativos almejavam, então traçaram as estratégias, planejaram e foram colocando em prática aos poucos, tudo milimetricamente pensado e calculado, a margem de erro era grande, mas valeria a pena para viver os sonhos que tanto desejavam. Ainda assim, o caminho era árduo. Vejamos o desenrolar dessa história de amor, sonho e liberdade!

Tudo estava ocorrendo de maneira planejada nos planos dos enamorados. No ano de 1867 o casal decidiu fugir juntos dos domínios dos seus respectivos senhores, e como dito anteriormente, foram morar em um lugar isolado, nas matas da Fazenda Cabeça de Negô, lá construíram um pequeno rancho de morada e dedicavam seu tempo a criação de pequenos animais e ao cultivo de roças, tudo com o objetivo de acumular recursos para a compra definitiva da liberdade.  Como era de costume nos tempos da escravidão brasileira, muitos dos escravizados quando em fuga buscavam apoio de outros senhores, os quais poderiam esconder -acoitar- o fugitivo em troca de dias de trabalho ou outro tipo de pagamento. Tudo indica que foi esse o caso de Bento e Luiza.

Nos planos traçado pelo casal, quem primeiro sentiria o gosto da liberdade seria Luiza, mas algo deu errado. Firmino José de Souza e seu filho Rosendo José Souza, foram as pessoas que prometeram “esconder” Bento e Luiza, e intermediar a compra de suas alforrias com os seus senhores. Para tal, receberam a quantia acumulada com tanto suor, trabalho e dificuldade, porém, a denúncia realizada pela promotoria de Cachoeira em 3 de dezembro 1867, mostra claramente que a  situação teve desdobramentos perversos:

O escravo Bento, conseguindo juntar uma quantia para a liberdade  de Luiza […] que assim como Bento, andavam fugidos e viviam juntos, entregou a referida quantia  a Firmino José de Souza, para ele como lhe havia prometido libertar sua Luiza, não fazendo […] e até negando a Bento o dinheiro que lhe havia dado[…] e Bento  prometeu que lhe tiraria a vida, se acaso não lhe restituísse seu dinheiro.

Pelo que posso captar do documento, o casal juntou a muitas custas tostão-por- tostão, dia após dia cada vintém da quantia necessária para comprar a liberdade de Luiza. Segundo o acordo, pela condição de Bento e sua companheira, Firmino José de Souza, que era um homem livre, seria o intermediador entre os escravos e o senhor de Luiza, como havia “prometido ao casal tratar da liberdade de Luiza com seu senhor”. Mas Firmino, conjuntamente com seu filho Rozendo, não cumpriram o pacto e não quiseram “restituir o dinheiro” pertencente ao casal.

No dia 3 de dezembro de 1876, “Bento foi morto barbaramente” por Firmino e seu filho. O corpo de delito nos revela de qual forma o pecúlio (dinheiro) para compra da liberdade de Luiza foi acumulado. Segundo os peritos: “O cadáver do preto Bento foi encontrado nos matos perto da serra da mumbaça, onde aquele infeliz tinha uma roça e um rancho de morar, fora ali que estava já bastante inchado ”.

Bento foi encontrado morto ao pé do rancho no meio de suas roças, talvez essas roças significassem para Bento e Luiza o solo que, a cada dia, plantavam as sementes de suas liberdades, conquistando, ampliando e defendendo os seus espaços de autonomia, construídos a duras penas. Os dois denunciados são condenados por homicídio e Luiza foge novamente.

Possuir uma pequena faixa de terra, uma casa, uma plantação ou criação poderia significar a segurança de dias menos piores, ou pelo menos servia para nutrir a esperança de dias melhores, por isso a defesa desses pequenos bens, e quando possível a sua ampliação, era fundamental.


Capa do Jornal do Movimento Negro Unificado de maio/junho/julho 1991. Fotografia: Carlos Moura. Modelos: Nethio e Lúcia. Frase: Ori

A história de sonho, coragem, amor e companheirismo entre Bento e Luiza fora estragada pelo roubo, morte e pela ganância de José de Souza e seu filho Rosendo José Souza, que assassinaram Bento conjuntamente com os seus sonhos. Luiza continuou a sua sina: permaneceu foragida, agora sem o seu companheiro, sem o pecúlio e mais distante do gosto da tão sonhada e planejada liberdade, mas, apesar de tudo, permanecia viva e com seu negro amor no peito!

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Clíssio Santana

Mestre em História Social pelo Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal da Bahia ( 2014), licenciado em História pela Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (2012). Desenvolve pesquisa sobre escravidão, liberdade e pós-abolição no Recôncavo Baiano nas últimas décadas do século XIX e nos anos inicias do século XX.

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