Texto: Divulgação
Vozes silenciadas, discursos governamentais dominantes, cobertura jornalística sobre violações de direitos humanos contra lideranças negras. Essas são algumas das questões analisadas na pesquisa realizada pelo Centro de Comunicação, Democracia e Cidadania da UFBA – CCDC/UFBA, em parceria com a Fundação Heinrich Böll Stiftung. A pesquisa, que tem como objeto a cobertura do assassinato de Mãe Bernadete, será lançada na próxima quarta-feira (15) no auditório da Faculdade de Comunicação (Facom), das 9h às 11h, em mesa de debate com pesquisadores e representantes do movimento quilombola.
A discussão contará com a presença de Wellington dos Santos, neto de Mãe Bernadete e representante do Quilombo Pitanga de Palmares; Júlio Rocha, diretor da Faculdade de Direito da UFBA e pós doutor em Antropologia; Márcia Guena, professora do Programa de Pós-Graduação em educação Cultura e Territórios Semiáridos da UNEB; Giovandro Ferreira, professor titular da Facom, coordenador do CEPAD e tutor do CCDC/UFBA. A mediação será feita por Elis Freire, pesquisadora do CCDC.
A pesquisa “Mídias, Discursos e Silenciamento: Análise da Cobertura Jornalística sobre o Assassinato de Mãe Bernadete”, conduzida após o trágico assassinato da liderança quilombola em agosto de 2023, representa um marco inaugural no projeto Salvaguarda de Memórias Negras. O trabalho revela não só as tendências jornalísticas que contribuem para a invisibilização das complexidades vinculadas ao assassinato, mas também o silenciamento midiático em relação às vozes quilombolas.
Ao analisar notícias e reportagens sobre a cobertura da morte de Mãe Bernadete, a pesquisa mostrou a falta de articulação de fatores cruciais relacionados ao crime, já que mais de 60% dos conteúdos não relacionaram o assassinato com a disputa por terras e território envolvendo o Quilombo Pitanga dos Palmares. Também não fizeram referência ao fato de que a liderança já havia denunciado ser vítima de ameaças e nem mesmo indicaram a conhecida atuação de Mãe Bernadete nas denúncias sobre o assassinato do seu filho, Binho do Quilombo, e das ameaças sofridas pelas demais comunidades quilombolas.
Além disso, também foi possível observar o gradativo silenciamento do caso, tendo em vista que entre os 115 conteúdos jornalísticos não-opinativos, 59 conteúdos foram publicados entre os dias 18 e 19 de agosto, dois dias após o assassinato. Após a terceira semana do assassinato, apenas nove conteúdos foram publicados. No dia em que o crime completou um mês, apenas dois conteúdos foram publicados. Ou seja, houve uma invisibilização progressiva do caso – o que dificulta a garantia de justiça.
Maria Bernadete Pacífico foi uma liderança ativista pelos direitos das comunidades tradicionais e coordenadora da Coordenação Nacional de Articulação de Quilombos (Conaq). Moradora do Quilombo Pitanga dos Palmares, em Simões Filho, interior da Bahia, a líder esteve na linha de frente da luta contra os interesses fundiários e de especulação imobiliária na região.
O encontro será aberto ao público e propõe ocupar a universidade como parte das mobilizações de greve nas universidades federais, promovendo reflexões e trocas entre pesquisadores, estudantes e sociedade civil. Durante o momento, todos receberão um QR Code para acessar a pesquisa na íntegra.