Mãe de adolescente encontrada desacordada no banheiro do Mackenzie relata que escola sabia dos casos de racismo que a estudante sofria na instituição

A menina foi encontrada desacordada no banheiro com um saco plástico amarrado à sua cabeça no último dia 29 de abril.
Imagem: Mackenzie/Reprodução

Por Késsia Carolaine e Patrícia Rosa

Uma rotina escolar marcada por racismo, lesbofobia, bullying e negligência institucional. Esse é o cenário descrito pela mãe de uma adolescente negra de 15 anos, encontrada desacordada com um saco plástico amarrado na cabeça no banheiro do Colégio Presbiteriano Mackenzie, instituição particular de São Paulo (SP), no último dia 29 de abril. O caso foi registrado na Polícia Civil como um ato infracional por injúria racial, bullying e tentativa de suicídio. Após o ocorrido, a adolescente segue internada num hospital psiquiátrico. 

Em entrevista ao Portal UOL, a mãe da vítima afirmou que a filha vinha sendo alvo de violências constantes desde maio de 2024. Entre os ataques, colegas de classe a chamavam de “cigarro queimado” e “lésbica preta”. Segundo o relato, as denúncias feitas à escola foram ignoradas, e o sofrimento da estudante foi deslegitimado até mesmo por funcionários da instituição.

“Ela chegava em casa chorando, dizia que não tinha amigos e que era excluída. Quando a avó ia buscá-la, os outros alunos tiravam sarro dela com xingamentos racistas. Ela também reclamava de outras meninas que a perseguiam dentro da escola, mas ninguém acreditava, nem os funcionários”, conta a mãe.

Em um dos episódios, ao procurar ajuda da instituição, a adolescente foi desacreditada por uma coordenadora, que teria exposto o caso em sala de aula. A profissional ainda teria dito para a aluna “parar com mimimi” e se referiu à situação como “síndrome de perseguição”.

No último dia 29 de abril, ao constatar que a garota estava desmaiada no banheiro do colégio, o Mackenzie entrou em contato com a mãe da estudante. Ao encontrar a filha, a menina teria dito que não aguentava mais a escola. A família então realizou um boletim de ocorrência, no último dia 5 de maio, que foi registrado na Delegacia de Repressão aos Crimes Raciais e de Delitos de Intolerância (Decradi). Após a conclusão das investigações, a Polícia Civil declarou que o caso foi encaminhado para a Vara da Infância e Juventude, com a identificação dos adolescentes envolvidos. Os detalhes das investigações serão preservados, por se tratar de menores de idade.

O que disse o Mackenzie?

Após contato da Afirmativa, o Colégio Presbiteriano Mackenzie se pronunciou dizendo que realizou o atendimento imediato da vítima, que foi encaminhada à Santa Casa em ambulância própria da escola, acompanhada por profissionais da instituição. Em relação ao depoimento da vítima, a escola afirma que “a aluna ainda não foi ouvida em ambiente psicopedagógico, uma vez que o foco, neste momento, é garantir seu acolhimento emocional e recuperação plena”. Segundo o colégio, a aluna recebeu alta na última terça-feira (13). 

Alegaram ainda que, desde o ocorrido, o colégio tem organizado uma série de reuniões com os pais e responsáveis dos alunos, a fim de discutir o caso e outros temas sensíveis relacionados ao ambiente escolar. 

No entanto, não é de hoje que casos de racismo com alunos bolsistas de escolas elitizadas acontecem. Uma pesquisa do Instituto Alana realizada no ano de 2023 mostra que 72% de estudantes negros em escolas particulares sofrem racismo e outras violências. Quando se trata das denúncias, apenas 12% delas são acolhidas e tratadas com seriedade.

Compartilhar:

plugins premium WordPress